Thursday, December 13, 2007

formoZo

.


cabe a cada um muito mais que pensa
o vulgo vulgar.
cada um que se conhece
pois que se compre
e dessa maneira a gente faz um mundo melhor.
cabe o que se faz
o que se diz
e o que se paga
só não cabe o do outro lado do espelho
na frente de cada um.

aposto, cada um gostaria
de ter um outro ao lado bem agora.
embora poucas vezes um outro
gostaria de ter o cada um ao lado.
lance de dados viciados
é quando há feliz coincidência.
aí, assim deveria ser
perderia-se a decência hipócrita
a doença dos bons costumes
e foderia-se. foderiam-se.
trepariam-se entre si os que quisessem
e assim seria.

mas não é.

uns dizem foda-se.
outros fodem-se.
outros fazem amor.
mas todos; e eu digo todos
gozam.

o gozo. o seu, meu, o do bozo.
todo gozo é igual.
só muda o dono. e as células sensoriais.
os casais.

não se engravida de um dedo.
não, ana maria, não.
pois bem, então sorria.
segure forte a minha mão.

isso. forte.

assim...


Vitório Vilas

Thursday, December 06, 2007

a carta de amor que nunca entreguei

.


queria poder dizer
"me encontre em hora x, dia tal"
coisa assim, coisa e tal
levaria uma caixa de chocolates
diets, pois sei o quão tememosa é você
com açúcares e seus dentes.
dentes que compoem sorriso-poesia
alegria de qualquer uma de minhas manhãs
acordadas ao teu lado.

queria poder dizer "me espera na janela"
bem na hora do mais belo pôr-do-sol
e te levar flores arrancadas na hora
só pra depois ir embora
deixando um rastro de saudade à tua frente.

queria teu abraço eterno
tua paciência pequena
inquietude plena
tuas brigas amenas
teu colo nervoso...

queria morar na tua cidade.
ser teu vizinho de cima.
queria te inventar minhas verdades.
vitimado por tua manobra-prima
adormecer... queria.

cantarolar em teus curtos cabelos
que curto demais teu cafuné.
"que tal um café?"
o teu olhar, o maior dos teus zelos...

queria, sem querer
que essas palavras chegassem aos teus ouvidos
mas você não sabe esse endereço
tão bem quanto sei o teu.

que pena.

que pena.


Vitório Vilas

Friday, November 30, 2007

.


eu invento coisas. coisas que existem.
mas não copio ninguém. não, isso não.
isso eu deixo pra os espertos.
eu invento é coisa que exise.

por exemplo...

tempo atrás inventei que eu fotografo.
desde então tenho inventado umas fotos.
uns ângulos. perspectivas.
acho que a perspectiva é uma invenção

(e quem a inventou é um gênio.
tem umas coisas que eu gostaria de ter inventado
a percepção é uma delas. ah, e o youtube também)

i
n
vento
e
n
t
o que eu quiser.

a hora que quiser.
sabe como é?

centenas de milhares
os mais variados tipos
impossíveis de conceber
seletas.
além. aquém. incompleta
s
























minhas.



























Vitório Vilas

telEUfonema

.


é. eu falo mesmo comigo.
qual o problema?
algum problema se de vez
em quando, quando me sinto só
eu falo sozinho?

nem é tão difícil assim.

falo dos mais variados assuntos
mas só dos que eu gosto...

é que não tem graça falar comigo
sobre assuntos que não gosto.

às vezes, durante severas emergências
eu grito "socorro" pra mim mesmo.
foda é quando eu não me ajudo
só pra ver alguém se ferrar na estória

vai dizer que você nunca fez isso na vida...?

é. vai dizer?

ei.


...


...

ô.


...

tô falando com você, ô idiota.

é. você, olhando pra mim. surdo?

alô, você dos espelho.




























pensou que eu estava falando com quem?


Vitório Vilas

Thursday, October 18, 2007

bom dia

.


e aí deu vontade de novo
do velho novo mais do mesmo

só pra constar
só pra postar
pra não perder o hábito
de falar sozinho pra ninguém
além de você.
















como é que foi seu dia?
o meu?
amanheceu de novo e sequer terminou.
acontece... acontece...


Vitório Vilas

do(i)s ocupados

.


café com pão e queijo
e o beijo, cadê?
pegou o elevador

ah, que dor-de-sejo
e o medo de ser
cadê? passou.

foi-se embora
e agora? só à noite.

açoite. na cara.
que tara é essa por rimas cults?
que tara é essa por primas cuteS?
oBra essa... que tara. que cara.
que mara-maravilha. que maravi-ri-lha.
só à noite.







noite.

"então, que tal?" - disse a mão
-pensou o pau-

tentou o seio
acertou em cheio o vão do ar
vão dormir sem se falar
amanhã, manhã, quem sabe o beijo
antes do pão, escova e o queijo.


Vitório Vilas

Tuesday, October 02, 2007

snh

.


há o que dizer, sim
só não se sabe como
há quem ame a mim, sim
só não se sabe o dono
de tamanho amor
anônimo, envergonhado
tal qual eu
nunca teve coragem de assumir
suas próprias palavras
(no meu caso, é que às vezes minto)

01:04, o telefone não vai mais tocar
vá dormir, ser deveras burro
de que adianta esperar?
medo dos sonhos que parecem murros?
receio de não conseguir transpor muros
cercas e o ar?
não consegue mais voar, não é verdade?
anda na própria cidade e não consegue
mais encontrar sua casa
tudo mudou e continua tão igual
que do certo só resta mesmo o gozo

ê, maldito dia chuvoso
quem mandou molha-la tanto assim?
não suporto vê-la em tal estado
se não for só por mim
minhas mãos te pedem tanto
quanto te temem as coxas
duas bocas roxas cujo tempo separou
enfim tocam-se...

é quando toca o despertador.



















sigo o dia inteiro insone
e imune a sonhos diurnos.


vitório vilas

Friday, September 28, 2007

papel

.


sandálias de papel em dia de chuva
é o que você, confiante, agora calça
e ainda acha que nada te ameaça...

tente apenas ver em que direção
o vento forte insiste e agora sopra
e em que ponto a luz dobra...

e faz tudo em círculos girar
não há espaço pra você
não vê?
não vê.

que azar, são várias poças
e os pingos não findam
brindam e então caem
como as moças

não veja. não vê?
de que lado estou?
em baixo, bem rente
ao solado dos teus pés

pula, dá voadora
entra de sola com os dois pés
a chuva te aguarda, vai


pode confiar em mim.


vitório vilas

Wednesday, September 19, 2007

parabéns.

.


uma tarde apenas
é o que peço pra fazer
valer a pena
uma existência regada
a gotas de você.

um atar de cenas
demais até pra esquecer
a dor pequena
d'uma não-vida marcada
a longas secas de você

dos caracóis amarelos
quero apenas a casa
o abrigo dos milhares
de fios em minhas mãos.

puxa. puxo.
puxa vida. faz tanto tempo.

e ontem faz hoje, agorinha
parecer ser.


Vitório Vilas

Wednesday, September 12, 2007

=/

.


em modo stand by
bye-bye.


Vitório Vilas

Sunday, August 12, 2007

dos males, o menor

.


e se de repente o cara, que não tinha a menor intenção e nem vontade, vai lá e, mesmo assim, faz? o que é que pensariam se ele, que nunca sequer pareceu esse tipo de pessoa, nunca antes dera motivos para que nem mesmo suspeitassem que ele seria capaz de tal coisa; se ele ao menos tencionasse o ato, o que será que repetiriam os alaridos? se as coisas das quais ele fosse capaz e essas sabidas por todos nunca tivessem sido indícios, agravantes... infelicidade do destino, talvez, mas o que importa é que ele fez. e então, qual das pedras você atiraria?

fica difícil responder sem saber do que se trata, é bem verdade, mas infelizmente não posso contar o que sei. digo apenas que é algo tão feio, tão podre e desumano que você não quereria saber quem o cometeu.

eu sei os dois. quem fez e o que fez. mas sofre bem mais que eu ele, que sabe, além de si e de seus atos, de suas razões.

isso me basta para viver feliz.


Vitório Vilas

Tuesday, August 07, 2007

"essa noite não"

.


desde que vi o vermelho-baton dos seus grandes lábios carnudos não consigo parar de pensar em ti. é tão bom gosto que exala, a humi(l)dade tua, a carne nua. e a vida lá fore corre que só. e aí dentro do teu vestido, roupa de baixo sei que não há. e sei que é só pra me encantar. pra me deixar ver apenas o vermelho-baton dos teus lábios e mais nádegas. mas aqui, cá onde estou, não tem você, só tem teu cheiro cheiroso, tua lembrança formosa e tua voz ecoando. fico quieto, lembrando dos teus movimentos lisos, a textura da tua pele com frio ou calor; o gosto do teu suor e da tua saliva e do gosto dos teus grandes lábios carnudos. lembro da moldura dos teus seios que guardo na memória e apalpo no ar, desenhando com a palma das mãos e as pontas dos dedos os segredos deles que são só teus, tão teus. e nesse vai e vem de orgasmos imagéticos, durmo, enfim, esperançoso de que sonhe sobre ti.


Vitório Vilas

Thursday, August 02, 2007

ctrl c ctrl v na sua barra de endereços.

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http://www.flickr.com/photos/o_gu


--

piro

.


with gasoline on my shoulder, i walk over fire
and the entire world knows who i am
i'm the one made of nothing
i'm the one that lives nowhere
the thing you people call "dare"
i just don't exist

if you resist... if you refuse
just don't abuse, i'll find out
anyways... the days run fast
pretty fast...

with gasoline on my shoulder
i smoke my last cigarrete
people i've met can be seen
from the deepest inside part
of my head...
my mind burns
flames chemistry explains
in small parts of a second
i'll be simply remains...








with gasoline on my shoulder, i walk over fire...
over fire.


Vitório Vilas

Tuesday, July 31, 2007

selecione "eu concordo" para continuar.

.


faz um favor pra mim aqui
pequeno, prometo. do tamanho de mim
em ti

me esquece.
me deleta de onde resido em ti
imagens, sons, movimentos.
shift del
sem chance de retorno.

se sentir saudade?
vontade de me executar?
download me. mas não me salva em ti.
nunca mais. apenas executa. clica "abrir"
nunca mais "salvar destino como"...

não me quero mais só teu
é isso. entendeu?
sou agora freeware.
free, ué.


Vitório Vilas

emeeseênicas

.


"beliscão..... ui.... isso eu estilo. ainda mais se for onde as cócegas nascem"
é? elas nascem, não sabia?
onde? em árvores, ué? tem gente que planta, tem gente que colhe
como tudo na vida. você sabe como funciona.






claro que não, foi uma piada
as cócegas nascem mesmo
é do nada.
ali, entre as costelas
bem entre elas. ou acima
e não há vacina
que as previna. nem adianta tentar...

ocorrem também no pé
no suvaco ou no pescoço
na virilha é que é
gostoso.... ou peri gozo
isso segundo uma amiga...

há também quem diga
que cócegas não sente
não sei se é insensível
ou se mente... quem souber
ria.

cócegas. dizem que podem matar
matar mesmo, de morte sem ar
asfixia, entende?
era o que minha mãe sempre dizia
ou seria outro parente?
"pára com isso que asfixia"
asfixia...
nunca tentei e óbvias são as razões

mas já chorei de tanto rir
e já morri de rir
não é igual a morrer morrer
nem tem a graça de rir por si só
mas é paradoxal
transcedental
é... chato pra caralho, isso sim.

dá vontade de mijar nas calças
vontade, claro, é modo de dizer
ou alguém aqui é bizarro o suficiente
pra mijar nas calças e depois sorrir
mostrando os dentes?

pff... cócegas. quem explica?
sorrir e chorar. sorrir e mijar.
sorrir sem vontade, por causa
de fricção.

cócegas... sementes que nascem
nas pontas dos dedos
nas cerdas das penas dos desenhos
nas linguas das moças avoroçadas
de onde brotam risadas
lágrimas
e mijadas.

cócegas... vai entender.


Vitório Vilas

em família

.


se deu vontade de bater
se deu vontade de espancar
não bateu por que?
deu medo, foi? deu medo?

deu medo não, garoto
deu receio de machucar
a carne é a fraca e o osso
duro
e tu bem sabe, tu não é duro
na queda
mas é tão corajoso quanto burro

que grande merda é você
não tem coragem de bater
e brada esse seu velho
blah blah blah

pois bem, garoto
está você a me desafiar

até que enfim
percebeu...

quem mais avisou fui eu




mãos, braços
pernas e cascos
o chão é o palco
do circo sem graça
de uma briga entre irmãos
sem vencedores ou vencidos
foi só mais uma...
























e logo mais, no jantar
faz favor, passa o pão


Vitório Vilas

Sunday, July 22, 2007

...

.


socorro. eu não sei mais escrever

não saberia sequer começar
o que nem sei o que quereria falar
esqueci mesmo.
da técnica, do jeito, do sotaque
dos assuntos que se falam
quando quer se falar
seja de pé em frente ao espelho
ou ao pé do ouvido
sempre em cima, em pleno desespero
sinta o que for sentido
esqueci. não lembro mais.
de como mexe a boca
de como enrola a lingua
de como os dentes cortam o vento
advindo direto da garganta
esqueci de como se faz vibrar
uma pá de cordas vocais
cheguei até a esquecer
que me havia uma boca...

foi aí que me toquei.
eu só me lembrava das palavras.


soltas ... todas soltas. assim ...

"..."

"soltas"


Vitório Vilas

Monday, July 16, 2007

visite. e visite mais vezes.

.


http://www.flickr.com/photos/o_gu

Thursday, July 05, 2007

estrelismo, dizem uns... eu? eu me calo.

.


pensa que eu não te vejo aí
a me ler?

eu vejo, sim... vejo sempre que você vem.
o que se passa, porém? não tenho mais te visto
com frequência
não te agrada mais a minha demência?
meus devaneios mais parecem esperneios
em busca de atenção?
vai dizer não mais crer
que escrevo em vão meu coração?

cansou-se de meu verbo
meus períodos compostos por orações sem sujeito?
ora essas, sou ateu. quem mais reza pra ninguém
sou eu.
e pra os meus trocadilhos, te falta tempo?
eu te vendo um pouco, que tal?
troco por visitas íntimas, envolvimento afetivo
com minhas palavras
meus adjetivos, todos teus... que tal?
transformo em começo, por você, meu ponto final
minhas reticências nunca o silêncio
não mais...

e se, por você, um cais?
um rapaz na volta pra casa
na rua escura e deserta... ao teu lado
nunca do oposto.
e se, por você, um rosto familiar
vago, porém familiar para olhos amnésicos...
e se, só por você
analgésicos em dias de sol, calor
e enxaqueca?
e se, somente por você, tudo?

que tal?








você volta amanhã?



Vitório Vilas

exceOpcionais

.


dia desses ouvi sobre um cara
que disse ter conseguido ficar invisível
pôs-se em frente ao espelho sem, porém
fazer pose
fechou os olhos e pronto; nunca mais se viu
invisí-viu?

ele não.


num outro dia, ouvi sobre uma moça
que dizia conseguir enganar todo e qualquer trouxa
a começar por si mesma.
desde pequena mente pra si.
mente tanto, mente muito, muito mesmo
que todos crêem nas mentiras que ela conta
a começar por ela
sua vida é poesia e prosa
menti-rosa?

sim, pra ela.

hoje, no entanto, a maior das maiores
me veio assim, por acaso, quase que sem querer
aos ouvidos
ouvi falar de um cara que sabia não ouvir
não era questão de prestar ou não atenção
era mais como uma função "mute" de tv
ele apertava o mamilo esquerdo e ...








chamaram-lhe de mentiroso.
todavia, não ficou nervoso
sabia que era apertar o mamilo
o esquerdo
e todo e qualquer segredo
continuaria assim...

secreto.


amanhã certamente ouvirei de outros especiais
diferentes e coisas e tais
que sabem isso, que fazem aquilo
que são sempre únicos

púnicos... todos.
traem a própria sorte
ao revelarem segredos tamanhos
quem não quererá agora seus ganhos
a começar por mim...



todo dia ouço dizer desse invejoso que sou.
invariavelmente, no entanto, me calo.
não gosto de pisar em meu próprio calo.


e assim sigo
vi-vendo...


Vitório Vilas

Sunday, July 01, 2007

.


há quem diga
que tudo tem hora e lugar
mas qual será
o lugar da hora
diz qual será
a hora do lugar


?


será que é lá
onde o vento faz a curva
será que a hora
é a hora H
seja-se lá
a que horas for
não haveria lugar
melhor que aqui
não haveria hora
melhor que agora.

me diz onde, então
me diz que horas são

me diz a hora de ir
que eu vou

já fui
viu?

quem mandou perder a hora...


Vitório Vilas

Monday, June 18, 2007

doce

.


procuro música pr'agora
mas não há
foi-se embora a doçura dessa vida
foi-se embora...

procuro um abraço
mas no ar
foi-se embora a felicidade de um amigo
pelo menos por hoje...

há quem diga "vai passar"
e vai
mas demora...

que importa o quão bela seja a chuva que cai
se não molhará teu rosto jamais
só as flores agora. só há flores

flores e lembranças... as lembranças também
de um tempo que será nunca outrora
de um tempo que será nunca de outrem

doces tempos.
têm por ti total apego.
mas agora tem de ir.

deixa, então.
solta a mão. já é hora
ou não. quem julgará?

deixa ir. doce que só era.
deixa ir.

doce. que só era. ela.


Vitório Vilas

Wednesday, June 13, 2007

piegas, porém piegas.

.


te amo com todos os meus panos e minha geladeira
e meu fogão e minha mesa; meus panos de chão
e minha comida; te amo com meu celular
e minha bebida
te amo com minha porta, janela, tigelas
e discos de vinil
te amo com meu computador e meu estado civil
com meu cpf, te amo. com minha identidade, te amo
te amo até com o carro que um dia terei
com a casa e os filhos que sem dúvida serão teus
e meus, espero...
te amo com a minha tv, rádio e dvd
com meus livros, te amo. com meus gibis também
te amo com a cortina e com o chuveiro
te amo com dezembro e janeiro
de domingo a domingo, com o relógio, te amo
te amo até com as fotos de minhas ex-namoradas
minhas piadas, minhas risadas, minhas viagens
e a comida enlatada. com tudo isso, te amo
com o bule, o café ou o chá
com tudo isso, te amo

te amo, te amo e te amo. te amo comigo
só não te amo sem mim...

se te amo tanto e com tanto
imagina tu, me amo mais.



Vitório Vilas
.


e o que dirá do que acontece
do outro lado de lá
outro lado de qualquer lugar
quando chove forte
quando tudo cheira a morte e cinza
o que dirá do que acontece
com o resto do mundo
quando duas gotas se chocam no ar...?

o que dirá, hein? o que dirá?

dirá nada. é o que dirá
quando as duas gotas se chocarem no ar
absolutamente nada, pois é o que
há pra falar...
estão todos ocupados demais
pra ver a chuva cair


tolos. todos tolos.
insistem em dizer
não ter tempo pra ver
a chuva cair.




mal sabem todos
que cada vez menos chuva cai.




haverá o dia em que nuvem nenhuma
surgirá no céu.
gota nenhuma se chocará no ar.
nada mais acontecerá aqui
ou do lado de lá.
só o azul do céu...




tolos. somos todos tolos.


Vitório Vilas

Wednesday, May 30, 2007

e no fim, ser-me, enfim...

.


pois bem...

me ensina a ser como tu
tu, azul, ou verde, ou madura.
me ensina a ser quem atura
quem se acha
ou quem se perde
me ensina a ser o nerd que passa
a vida inteira tentando não ser
me ensina a crescer
pois eu quero é ser gente grande
me esina a ser o que tange
o intocável, ilegível, inenarrável

quero ser o que define
sem ter definição
ímpar. quero ser teu par.
mar. quero ser tua praia.
quero ser quem caia
sou quem sei ficar em pé... mas quem não é?

me ensina a ser o que tu é
seja lá o que tu for
preto&branco ou incolor
inodoro, insípido
me ensina a ser água potável
me bebe... sou doce e adorável
me bebe... me faz parte de ti

me ensina a ser tua urina
quero ser quem sabe como sair
me ensina a ser quem contamina
quero ser quem entra sem pedir

me ensina, vai. me ensina.
aprendo rápido. e se não, e daí?
quero ser qualquer coisa mesmo...










e aí? me ensina?


Vitório Vilas

Tuesday, May 29, 2007

dadaísmo

.


de vez em quando a gente sente vontade
de brincar de ver se a menina sente saudade
aí a gente manda uma mensagem
um telefonema, ou diz que estava de passagem
só pra ver no que vai dar...

geralmente não dá em nada

bom mesmo é quando dá.

























dá pra entender?


Vitório Vilas

Monday, May 28, 2007

admito; culpado.

.


triste estou
preocupado também
perdi o que não podia perder

já me vou
seja o que deus quiser, amém
nessa horas queria em deus crer

seria um alívio
ter uma mão imaginária
a tocar-me a cabeça
e dizer "tá tudo bem"

talvez um dia
alguém...

no momento agora
só minha consciência
a socar-me a cabeça
ah, que demora
pra ir embora o peso...

estou ficando cansado
o que vai ser?


Vitório Vilas

Wednesday, May 23, 2007

banho tomado, jantar comido, corpo doído...

.


sentou em frente a tv o homem cansado e pôs-se a assitir.
passava num canal um programa apresentado por uma mulher
peituda, burra e boçal. cansado, o homem resolveu desistir.
sem muito esforço, ergueu o braço, o dedo e o instinto voyeur
tomou conta da casa, da sala, do sofá, da atenção...
não por muito, porém.

filho único, o homem cansado não gostava de grandes irmãos
ergueu de novo a mão, o dedo e clicou
"é gol", gritou a tv
pergunta-se o homem "pra que?"
de que adianta se tudo na vida é dez ou dois?
resolveu deixar aquilo pra depois.
ergueu, mais uma vez, o braço, a mão, o dedo
e sentiu um certo medo
não do escuro que de repente tomou conta da sala
mas da solidão que a qualquer um cala
a boca e o coração

um susto apenas
a luz voltou. em technicolor. digital.

o som, o mocinho, a bandida, a empregada
todos terão seu final feliz
o palhaço a brincar com seu nariz
o gozo interminável dos casais pornôs
os pay-per-views dos camelôs digitais
e os cannes-byes...

cansado disso tudo, o homem cansado
ergueu pela última vez o braço, a mão
o dedo e zica, nada mais era movimento.
pôde, enfim, ouvir seu pensamento...

padeceu feliz em seu sofá.


Vitório Vilas

]=

.


sobre o que, hein? me diz você
sobre o que quero escrever?
te juro que comecei sem saber
pra onde ia
e cá estou eu sem estar
em lugar algum.

me diz você, diz
por que eu quis ser luz do dia?
quando tudo em minha mente é escuro
vazio e seilámaisoque...
me diz você, diz
por que feliz, pra que alegria?
se tudo em meu peito
bate lento e imperfeito
me diz você, diz
me diz você...
diz qualquer coisa, só não deixa
ele chegar. ele, o silêncio.

tarde demais. chegou.
cegou.

vê?


Vitório Vilas

Friday, May 18, 2007

huMor

.


às vezes, de manhã cedinho
prefiro pensar assim...

"imagina tua vida.
tu tá ligado que nunca, em momento algum dela
tu vai dirigir uma ferrari?
tá ligado que tu nunca vai ter um primeiro milhão de reais
numa conta em teu nome?
tu nunca vai conseguir comprar um helicóptero.

é foda não poder ter piscina numa casa de praia
e a ferrari. ah, a ferrari...

agora vê.

tu tá ligado que esse momento vai chegar
e passar
e disso tu não passa?
tu vai ser sempre o cara que nunca dirigiu uma ferrari.

e cá estou eu, na tua frente
com minha parcela de culpa.
por mais amigos que sejamos, nunca te emprestaria
a minha. só que preta, não vermelha"

é perigoso quando eu acordo pensando assim.


Vitório Vilas

Wednesday, May 16, 2007

sobre as formas de entretenimento econômico

.


entretenimento barato é o que preciso
estou liso
pra mim agora é sexo, tv ou masturbação

qualquer um dos três, no entanto
é possível se fazer no sofá
eu tenho um sofá.
logo, posso já fazer sexo
ver tv
ou me masturbar.

do primeiro, precisa-se também de uma pessoa
no meu caso, faço questão que seja do sexo feminino
nunca um menino. de macho na estória já basta eu.
que seja, no mínimo, bela. tenho uma queda por moças belas

se não for bela, prefiro ficar com a tv
ou a masturbação.
por que não os dois? prazer em dobro. sou um gênio.
burro mesmo são os que fazem a programação da tv.
burros e sacanas. no mal sentido da palavra, claro.

não há hoje forma de entretenimento mais desestimulante
que a tv.

me restou a masturbação. mas é tanta coisa acontecendo.
tanto na cabeça.
o sono chegando, e antes que eu me esqueça
a ausência do sexo e de uma tv de qualidade em minha vida
que confesso...

perdi o tesão na masturbação já há tempo. pobre de mim.
e do meu sofá. abriga apenas um corpo que dorme.
que desperdício.


é tão fofo o meu sofá...


Vitório Vilas

Tuesday, May 15, 2007

tua tvejo.

.


mulheres safadas
o que seria do mudo sem elas
o que seria delas sem o mudo

e nós aqui, babando...
fique a vontade. o sofá é todo seu.

eu? eu sou tua televisão.


Vitório Vilas

das dúvidas

.


ó, dúvida cruel
já não sei mais se vendo idéias
ou se as escrevo em informes de papel

de agora em diante sabe-se lá o que vai ser.
mas prometo contar assim que for. seja lá
o que seja.


Vitório Vilas

Tuesday, May 01, 2007

emeeseênicas...

.


fêlana - diz:
Espere, deixa eu ver o nome do autor, é um italiano fodao!
fulano - diz:
ok... tô no aguardo....
fulano - diz:
mas eu fico na linha ou tu liga quando achar?
fulano - diz:
(horrível essa, né? piada é mania minha)
fulano - diz:
(e comentar sobre as minhas próprias piadas também)
fulano - diz:
(horrível isso, né?)


Vitório Vilas

Monday, April 23, 2007

sobre as tampinhas de garrafa

.


doce que nem você
ah, guria, não há
doce que nem você... doce que nem você...

sorte que nem se vê
que pega ou dá
sorte que nem você... sorte que nem você...

bote quem nem percebe
se usa sal ou orégano
pernas pra quem te quero... pernas pra quem te quero...

tampinhas de garrafa
meu calendário
mostruário do que fiz
e do que virá por aí. do que virá por aí.


Vitório Vilas
.


sei muito bem o que as tampinhas de garrafa
querem dizer
não precisa me relembrar
já me quero assim
mesmo com o balanço de tuas pernas
não adianta balança-las demais
é sem retorno
donde estou eu não volto mais não...

inenarrável
mais ou menos por aí
como é aqui
direitos inalienáveis
não valem de nada
estou imune a dor...

entorpecido...

e lá se vão as tampinhas de garrafa...

e lá se vai você...

e lá se vai uma boa noite...

e mais um copo...

e mais um gole...

pega...

esse vinho pega... rápido.


Vitório Vilas

Saturday, April 21, 2007

a cada dois dias.

.


http://www.fotolog.com/curtinhas/


.

Friday, April 20, 2007

quando do esquecimento...

.


disse a ela assim
"de ti tudo sei"
e tudo quanto é rei
calou-se diante dele

deu um passo a frente e falou
"pra ti tudo sou"
e tudo quanto é rei
diante dele ajoelhou

mais um passo...
"do teu coração sou marcapasso"
e no compasso da cadência de sua voz
todo rei deixou de lado o "venha a nós"

dessa vez os passos foram cinco
mais próximo, estendeu a mão
e deu a ela um brinco
disse "usa sempre. não tira nunca"
e todo rei considerou seu castelo
espelunca

"quem é você, ó, belo rapaz?
capaz de calar os reis
e seus generais
em uma vida só, viver seis
ser freguês e ser capaz
ostentar tanta dor no peito
e aguentar sempre mais

quem é você, rapaz direito
quem é você?"

deu mais um passo a frente
agora o último
e, súbito suspiro, respondeu
"quem? eu?"

"eu era. não mais"

e tudo quanto é rei
teve de volta a paz.



Vitório Vilas

> || [] << >>

.


é tudo sempre igual. é tudo sempre igual.
repetições, variações sobre um mesmo tema.
é tudo sempre bonito. é tudo sempre bonito.
tudo feito pra que ninguém tema. ninguém tema.

o novo, o ovo
a novidade
tudo feito igualzinho a ontem
pra que ninguém tema
o novo, o ovo

é tudo tão ímpar. tão ímpar.
feito uma novela ou um jogo na TV
imprevisibilidade, a novidade do verão
em pleno inverno.

é tudo tão assim, tão assado
os dados sempre sendo lançados
viciados
em decidir da vida dos outros
o que será e o que deixará de ser

é tudo tão sempre assim.
assim, de trás pra frente.
assim, de frente pra trás.
quer ver?


Vitório Vilas

Tuesday, April 17, 2007

.


imagina se a vida se arretasse
e começasse a jogar as coisas
que nela a gente jogou indevidamente
durante a vida até o momento presente
ia ser um "deus nos acuda"
chicletes cairiam do nada em nossos cabelos
pedras voariam aos montes, quase que como balas
passando zunindo em nossos ouvidos
"um prédio alto, pingos de ar/ondicionado
porra nenhuma... é cuspe mesmo"
bolinhas de papel seriam como a neve
de lugares quentes
bitucas de cigarro, a chuva ácida
dos frios
vasos de flotes seriam o índice mais
elevado de causa-mortis de todos os países
do mundo...

seria deveras tosco de ver
palavrões sendo jogados pelo vento
nos ouvidos das pessoas
vômito aparecendo nos ônibus
árvores com um cheiro natural
de urina
as ruas seriam asfaltadas em purpurina
poeira seria confete, caindo pelas janelas
dos apartamentos de primeiro andar

de tudo isso ri-se

mas não dos que a vida toda
passaram jogando bombas
balas
mentiras
não dos que jogavam sujo
que jogavam com as duas mãos
jogavam feio
creio que não se ririam
dos que jogavam os homens
aos leões
fumaça aos pulmões
não se ririam deles

disso não se ri

afinal de contas, eles não vivem sós
esses que jogavam bombas e coisa pior
vai que teu pai, tua mãe ou teu filho
é um deles
teu marido ou amigo, qualquer um...

não... não seria mais engraçado.

nunca é engraçado quando jogam
coisas em nós indevitamente.


Vitório Vilas

Monday, April 16, 2007

.


e não é que quando percebi
já era meia-noite
da suspresa fez-se o açoite
da noite fez-se madrugada
com uma granada sem pino
nas mãos
corri feito um louco varrido
pela vassoura dos teus sonhos de mel
a granada ainda nem explodiu
e já me pergunto "aqui é o céu?"
porque se for quero descer...

tenho medo de altura
mas nunca tive medo de voar
deve ser porque não sei direito.

tenho muita amargura
por toda vez que tentei tentar
mas nunca saí daquele parapeito

deve me estar no dna
a diferença entre ser homem
e voar
de nada deve adiantar, porém
saber das ciências pra resolver
tal questão

tem de saber é de si.

saber de casa e de cada um
que a frequenta
saber que escreve com pena
a mão que aguenta
saber que acena pra vida
quem quer
pois é assim que ela acena de volta
saber que o mundo dá voltas
mas quase nunca tem vaga pra todo mundo
enfim... saber de tudo um pouco
e de pouco um tudo. e vice-versa

mas falávamos mesmo era de voar
e das peripécias que faria quem
o fizesse.
ir ao céu e voltar a hora que quisesse
descer de lá quando estivesse chato
e voltar quando legal

mas pra voar tem que saber muitas coisas
e eu gosto de ser passivo das coisas
talvez um dia alguém me leve...

é. talvez um dia alguém me leve.
dou-me por satisfeito.


Vitório Vilas

Sunday, April 15, 2007

cego, não nego. enxergo quando quiser.

.


aí eu disse assim
"tenho nada mesmo com isso..."
"fazer o que?"
pra começo de estória, mentiram
pra mim
e o fizeram mais ou menos assim...

colocaram em minh'água
um negócio invisível
porém, bastante digerível... engoli
sem sequer pecerber
quando vi, não podia mais ver
pensei cá com meus botões
"deveríamos nascer com botões
e funções do tipo rewind"
mas voltando...

cego, e não nego
rumei sabe-se lá pra onde
não podia ver. só sei que subia
pra onde ia era difícil de ver
pra piorar, estava escuro...

topei em algo duro
pensei "é um furo?"
pode sê-lo ao avesso, oras...
não me crê? azar.

encontrei, por fim, uma parede
meu nariz lembra-se disso perfeitamente
hoje em dia ainda é meio torto
e doente
mas não morto... morto não.
cego de nariz morto é cego e meio.

na parede havia uma porta
destrancada, vim a perceber
"abro? não abro?"
abri.
nada vi.
estava ainda cego.
e não nego.
cego porque queria ser.

foi aí que eu disse assim
"tenho nada mesmo com isso..."
"fazer o que?"


Vitório Vilas

Tuesday, April 10, 2007

...

.


disseram-me que sentiria falta d'ocê
após três dias sem cheirar a cor
dos teus cabelos.

mentiram.

disseram-me que quereria morrer
ao relembrar o gosto do fervor
dos teus apelos.

mentiram.

contaram-me dia desses
o quão sincero é teu beijo
e tua mão
mentiram-me por causa desse
desejo burro e etílico
de tocar o chão
afogaram meu orgulho
em banho-maria
incendiaram minhas crenças
com a primeira luz do dia
disseram-me "és nada mais"
"um incapaz"
"não consegue sequer levantar-se"
"que dirá, então, olhar a própria face
sem querer chorar"

mentiram.

mentiram tanto. mentiram cedo.
mentiram o pranto. mentiram o medo.
selecionaram as melhores mentiras
a dedo.
cínicos tais quais vilões
precisos tais quais peões
mentiram sobre meu caminho
e, em plena queda, me perdi
e nunca mais encontrei o chão.

até mentirem sobre o chão.
chegará o dia em que pisarei, enfim.


Vitório Vilas

Monday, April 09, 2007

quem tem vinho?

.


encha meu copo, por favor.
até a borda.

agora pode ir.
sei beber sozinho, obrigado.


Vitório Vilas

[bip]

.


em minha janela escrevi bem assim
"moro aqui, mas não me encontro
deixe seu recado, porém".

amanheci de janela quebrada
cacos de vidro e pedras no chão.

decidi comprar, então, uma caixa de correio
escrevi nela "moro aqui, mas não me encontro
deixe seu recado, porém".

amanheci com um envelope branco, sem nome
contendo um pó branco dentro.
fermento?

resolvi criar, então, um blog.
amenheci gripado.
maldita internet e seu virus, worms e trojans.

"não me encontro. fui deitar.
deixe seu recado, porém".


Vitório Vilas

http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17406546463514530706

.


quem sou e donde vim
de que importa?
quem fecha ou abre a porta
é, pra mim, o que conta.
quem segura as pontas
e cresce sem saber porque
é, pra mim, o que vale

quem diz ser você?
quem você diz ser?
de nada vale saber tanta
superficialidade. minha especialidade, aliás...
é que desaprendi a sentir as coisas
desaprendi a sentir saudade
e agora nem preciso de você
já sei crescer...
desaprendi a sentir dor
e agora já sei do amor
já sei fingir...
desaprendi a sentir esperança
e agora sou todo assim
todo agora.

desaprendi a sentir tanta coisa
mas, esperto que só eu mesmo
assim, quase a esmo, lembrei de aprender
a reaprender o que porventura
vier a, propositalmente, desaprender

e se me faço complicado por demais
faz como eu, que sou capaz
de desaprender também a desentender das coisas
desaprendo tudo que desentendo.
no fim me basta pra continuar
vendo as coisas exatamente como elas são.

é isso que sou. nada mais, nada menos.
e isso me basta.


Vitório Vilas

Thursday, April 05, 2007

real.idade

.


procuro por fogo
pr'acender a vela
há pessoa ficando mais velha
pouco a pouco...

hoje é dia de aniversário
há 20 e tantos anos saí do berçário
pro mundo.
desde então respiro bem fundo
mas quase não encontro ar...
maldita enfermeira. deveria ter
me deixado pra sempre por lá.

nasci, chorei, me alimentaram
botei tudo pra fora, como de praxe
aí me limparam. pensei "isso é a vida?"
"deve ser bom. gosto de ser passivo das coisas"
e continuaram a me alimentar
e me mimaram, me ensinaram a falar
foi o começo da minha desgraça
droga... deveriam ter-me deixado mudo.
chorar me bastava.

e me fizeram aprender o mundo
a ver as coisas, a jogar videogame
a brincar de bola
a dizer "não me amola, não quero crescer"
só não me ensinaram a parar...
aí tive de aprender a estudar. nunca consegui direito.
mas finjo bem. até meus professores acreditam.
minhas notas também.
entendi boa parte do mundo. pelo menos a que me cerca.
entendi as festas, os relacionamentos
os pais. ah, os pais. esses são difíceis de entender.
mas consegui. me fez mais feliz.
entendi os amigos e os que deixam de ser.
entendi os irmãos, entendi qual é a do pão
entendi o trabalho. entendi meu caralho.
apesar disso, negocio com ele todo santo dia.
entendi tanto, e tão pouco.
aprendi muito... e quase nada.
convivi com tanta coisa. e tanta coisa ainda me falta.
somo, subtraio, multiplico experiências
o somatório de tudo me fez sorrir.

isso me basta. agora entendi.
entendi de tudo um pouco, mesmo sem me entender...
vinte e tantos anos. tenho muito tempo ainda
a perder.



Vitório Vilas

Wednesday, March 28, 2007

você não vai querer ler isso.

.


o que dizer, então, das imagens
de suas mentiras, de suas intenções
o que dizer então dos selvagens
de suas vertigens e contradições
o que dizer dos políticos
dos analíticos, dos analisados
o que dizer dos coisificados

o que dizer da mentira
da sua vaidade e dos seus chavões
o que dizer da calcinha
da sua beldade e dos tantos bundões
o que dizer do livro aberto
do marcador e da página arrancada
o que dizer do que diz nada
e mesmo assim fala demais

no caso, esse caso é o meu
o que dizer eu quis? o que quis dizer eu?
o que quero dizer quando não digo?
o que digo quando não quero dizer?
se conto algo de novo
de repente tens pressa
se te digo algo de velho
de repente não te interessa
te interessaria saber
que não tenho nada a dizer?

antes de admitir, no entanto
digo de coração
antes falar nada, porém demais
e ter por algumas linhas tua atenção
a calar... e mesmo assim ainda tê-la.
não... não.
não aguentaria o peso dos teus olhos
a carência de palavras dos teus ouvidos
não perderia o arrepio dos teus poros
em troca de alguns de meus gemidos

aliás... gemidos falam, não falam?
pois bem. no fim, todo mundo acaba falando.
nem que seja gemendo.
ambíguo? isso é o que dá falar nada
e mesmo assim falar demais.


Vitório Vilas

Sunday, March 25, 2007

medo.

.


todo dia de manhã
faço a barba esperando tornar-me
uma versão mais aceitável de mim mesmo.

tem funcionado até então. sorte minha.
espero não viver o dia em que ninguém me aceitará
mesmo que de barba feita.

deve ser ruim quando não te aceitam...
mesmo que de cara limpa.


Vitório Vilas

leia com atenção.

.


domingo. leia atentamente. domingo.

ainda não captou? pois bem, leia mais uma vez.

domingo.

ainda não? vou soletrar.

d-o-m-i-n-g-o.

nada ainda? tudo bem, sou paciente.

vamos lá... repita comigo. do-min-go.

e agora? não?

ok... beba um copo d'água.

vamos lá, eu espero. não sairei daqui.

já foi? bom.

voltando... domingo.

o que foi? encheu-se já?

pois é... domingo.


Vitório Vilas

Sunday, March 18, 2007

puxa o banco e senta

.


sr. martinez me falou um dia
pra não deixar de prometer
tesouros no fundo do mar
ora essa, e se o meu foi roubado
antes d'eu saber dele?
são planos furados
os de querer me roubar
não tenho um conto no bolso
e os que tenho já se comprometeram
a pagar minhas contas do final do mês
não valho nada além do que pensam que valho
o que descobri um dia desses
tirando mãe e família
eu não valeria, nunca, além do que valho
pra você.

aliás, quanto valho pra você?

não... desculpe. não precisa responder
que pergunta essa, oras...
geralmente sou educado. geralmente.
mas é que quando escrevo falo demais.
frescura de quem escreve...
você escreve? escreve, escreve sim...
nem que seja carta. isso é escrever.
todo mundo é escritor.
eu escrevo. pra você. você escreve pra mim?
você escreve pra alguém?

todo mundo deveria escrever pra alguém
escrever pras pessoas é bom. tanto pra quem escreve
quanto pra quem lê. na verdade, nem sempre...
pra nenhum dos dois.
mas quando um dos dois; quem escreve ou quem lê
gostar do que faz e o fizer bem
a chance do outro gostar é bem mais alta. parece-me lógico.

é, eu sei. é prolixo a palavra, né?
você deve estar pensando isso de mim agora mesmo
"por que essa cara nunca termina o que começa a dizer?"
é mania minha... me acompanha?
escreve pra mim sobre teu dia
tua noite
teus sonhos
pesadelos
teus apelos
desistências
resistências
me conte sobre suas reticências
sobre o que você veio fazer aqui
me conte sobre porque não veio até aqui
da primeira vez...
sem ressentimentos. só curiosidade.

me escreva. eu prometo, mais dia menos dia
eu te escrevo de volta.


Vitório Vilas

Sunday, March 11, 2007

tédio

.


quem quer conversar?

eu!

ah, você de novo. ok, tudo bem
só tem tu, vai tu mesmo.
como está?

não sei porque pergunta
se já sabe
estou tal qual você

ah, é? e como estou, esperto?

tal qual eu.


é... graça nenhuma há
em conversar sozinho.
nada é novidade.
não sei porque ainda insisto.
e você, sabe?

eu? eu não.

sabia... perguntei por perguntar.

ah...



Vitório Vilas
.


eu respiro
tu respiras
ele respira.

nós respiramos
vós respirais
eles respiram.

vê? há ar pra todos.

há verbos democráticos por natureza.
respirar é um deles.

ainda bem, pois o ar é assaz importante
para a vida.
ah, se é.


Vitório Vilas

teorias. vol I

.


sentimentos claustróficos deveriam se manter guardados
muitíssimo bem guardados em caixas de sapato.
todos eles. não deveriam deixar nenhum sair.
sair pra que? de que servem sentimentos claustrofóbicos?

ah, vocês querem um exemplo de um sentimento claustrofóbico.
a solidão é um bom exemplo. e deveria ser mantida sempre
guardada numa caixa de sapato. mas no caso dela, sozinha.
é, sozinha, que é pra aprender como é ruim sentir-se só.
a solidão sozinha, guardadinha numa caixa de sapatos.
parece-me uma boa idéia.

outro exemplo de sentimento claustrofóbico é a falta de ar.
como assim, "falta de ar não é sentimento"?
vivo sentindo falta de ar, ora essa. falta de ar é sentimento, sim.
tudo que se sente é sentimento.
frio é sentimento. e há sentimentos frios.
calor é sentimento. e há sentimentos quentes.
mas deixemos esses pra depois. falávamos da falta de ar.
odeio sentí-la. seja debaixo d'água ou num abraço muito apertado.
as pessoas não foram feitas pra viver embaixo d'água.
nem em abraços muito apertados. isso tira o ar.
e o ar é importante para a vida. é tão lógico quanto
dois mais dois igual a quatro.

sentimentos claustrofóbicos, tal qual um abraço muito apertado
tiram de nós o ar.
e o ar é, definitivamente, assaz importante para a vida.



Vitório Vilas

Tuesday, March 06, 2007

[sem título]*

.


eu sou um bom rapaz
sou capaz de ajudar uma velhinha
a atravessar a rua
se esta se comprometer a se apressar
é que vivo em pressa, sabe?
no meu mundinho mundano não cabe
vagareza.
corro sempre, que é pra não pensar
com clareza.
sou assim... ponho mesa
mas não cozinho
amo a beleza de um cuzinho
só pq me disseram que é gostoso
comê-lo... pensei melhor um dia
e não é. mas me disseram. isso é o que conta.

mas voltando ao meu dia
ele passa rápido, sabia?
tão rápido que quando dou por mim
já estou de novo a dormir
qualquer dia desses vou preferir
nem acordar... pra que perder tempo
acordando se a gente sempre volta
ao sono?
sim... essa é mais uma de minhas teorias.
tenho várias outras, já contei?
já devo ter contado.

ando tão repetitivo ultimamente.
parecido com meus dias...


Vitório Vilas






*isso já não seria um título?

idéias. Vol. II

.


pois bem. já disse que tenho várias idéias?
certamente devo ter dito. vivo dizendo isso a todos
e como são sábias as minhas idéias. tão belas.
que culpa tenho eu se a humanidade ainda não está
preparada pra elas?

noutro dia inventei uma invenção
que revolucionaria o mercado
não haveria esse que dissesse não
venderiam casa e carro, andariam pelados
só pra comprar minha invenção...

inventei-a, na verdade, enquanto dormia
é assim mesmo. não sou gênio, já voz disse
mas trabalho até em sonho. quer maneira mais
criativa de ganhar tempo?
em meu sonho, inventei uma máquina
materializadora de sonhos.

o único problema é que sonhei
com a tal máquina antes de tê-la
inventado...

pois é. nada de máquina de sonhos.
é só uma idéia, por enquanto.
tenho várias, sabiam?


Vitório Vilas

Thursday, March 01, 2007

idéias.

.


sou um cara de várias idéias. é fato.
sou quase um gênio...
para sê-lo por completo, falta-me apenas
a genialidade. na falta dessa, no entanto
faço bom uso de minha criatividade. me basta.

dia desses, dia desses qualquer, disseram-me
coisa interessante.

"casa-te com alguém que goste de conversar
pois no fim das contas é tudo que restará"

"não adianta batalhas plásticas
a gravidade sempre vence no final.
uma lástima, porém real."

tudo desce, tudo um dia cai.
é fato. não há como negar.
chegará a hora que viagra não dará jeito
e não haverá mais pele pra esticar.
tudo um dia vai ao chão.
desejo, peito, bunda, cunhão. é fato.

e foi aí que, resultado de muita concentração
desenvolvi uma técnica que salvará
quem pensou que o único prazer em vida agora
era dominó e tricor.
abaixei-me e masturbei meu dedão do pé esquerdo
até descobrir seu segredo. ele também sabe gozar.
e tem a vantagem de ser neutro a gravidade. já está
por demais no chão. é óbvio como dois e dois são quatro.

quer aprender como faz? não?
ora, por que?
parece-me tão simples. e normal.
vai entender...
depois não diga que não quis ajudar...


Vitório Vilas

Monday, February 26, 2007

dia desses amiga marília perguntou por mim

.


- e tu, como tá, hein!? tá sumido...

- eu tô sumido, pô...
quase n me vejo em espelhos... sei só que ando por alguns cantos que também frequento. mas é coisa rápida, quase nem me noto...
é que eu ando ocupado, entende? trabalhando demais.
quase não dou atenção pra mim mesmo...
só não me deixo pq sem mim não vivo...

- e se não fosse eu, quem repetiria pra mim todo santo dia que preciso voltar a malhar, entrar numa dieta e cuidar de mim?

- hahahahahahahahahahahahahaha. e nem o senso de humor, claro.

- é... admito que eu tenho senso de humor. meio estranho, mas tem lá seu charme. ahhh... quer saber. eu me amo.


Vitório Vilas

Friday, February 23, 2007

um sobre as verdades dos outros...

.


entre conversas e cervejas
disse-me um amigo, em tom sério

-poesia é coisa de veado ou vagabundo.
quando não os dois.

engoli a seco o deletério
sempre me senti estranho, pois
tomo mais uns goles, uns dois
e volto andando pra casa.


-pai, mãe, tenho algo a falar.

-finalmente, filho, vai casar?

-não, mãe. não posso. sou poeta.

meu pai, que sempre quis uma neta
pôs-se a chorar
minha mãe sorriu. já sabia
desde pequeno sempre ouvia

-leva jeito esse meu filho
com as palavras.


noutro dia, no trabalho
minha chefe ouviu de mim

-tenho algo a falar.

-pois bem, queria mesmo te dizer
serás promovido. parabéns.

-não posso. sou poeta.

-e a vergonha, não tens?
some daqui! já.
e sumi de lá.


sumi de lugares.
sumi de amores.
desejos fugazes.
tornaram-se dores.

cores esmaeceram-se
do preto e do branco
restou pó.
mas me assumi poeta.
poeta e só.


Vitório Vilas

Thursday, February 22, 2007

não leia.

.


não adianta... não adianta forçar. já é a quarta ou quinta vez que apago versos e mais versos, que não têm culpa da falta de assunto que viriam a expressar se não tivessem sido apagados. mas que culpa tenho eu? nenhuma. é da vontade de escrever que os versos que quase foram o que nunca mais serão deveriam estar com ódio. um cemitério de versos essa vontade criou. um cemitério abstrato, de palavras que morrem e voltam, que voltam e morrem, num ciclo incessante. é da vontade que dá, que não consigo controlar.

de minha parte, há apenas a culpa por não me entender, deixando assim que os pensamentos materializem-se ao bel prazer dessa vontade. vontade de dizer... tudo. e depois apago. é assim meu desabafo. escrevo, leio, apago. não há sequer o cheiro do hálito no ar para provar que falei o que, habilmente, calei.

e o cemitério cresce.


Vitório Vilas

Friday, February 16, 2007

poemo-novela

.


pois é... já ouviu falar?
resolvi começar
um dia, quem sabe, termino
com final feliz
toda sexta, um pedacin
um capítulo, um versin
dessa estória que poderia acontecer
com qualquer um...


.


rogério é um cara quieto
prefere ficar sob a luz de um teto
que sob a luz do luar
videogame à festa
diz que esse tipo de coisa
não presta, que é violento demais
rogério, apesar de recifense
nunca brinca carnavais
prefere todo o aconhego do lar
seu silêncio, sua paz
sua mãe e a comida dela
e também a janela...
ahhh... a janela.

rapaz quieto e bastante esforçado
rogério, como em todo santo dia
e dia santo também
durante o dia, sempre sai pra trabalhar
em um desses trabalhos quietos
quietos demais até pra um cara
quieto como rogério...

no trabalho, rogério é sério
faz o que deve, que é pra nunca
dever nada a ninguém
senta, trabalha, levanta
toma um café...
vai ao banheiro sempre depois
da água, que é pra "não diminuir
a produtividade, né?"
há quem duvide até que rogério
exista de verdade...

na cidade em que vive, seu intinerário
é simples e quase sempre invariável
casa, trabalho... trabalho, casa
mercadinho, todo dia
vez por outra, padaria
é que lá, sua mãe faz questão de ir
bom dia/tarde/noite pra um vizinha
que quase sempre sorri
"ah, minha filha, é tão bom esse moço
o rogério. rapaz tão sério. por que você...?"
e a gordinha suspira...
"ai, mãe, como eu queria... como eu queria..."

e pelo visto não era ela a única a querer
rogério, rapaz tão sério...




continua...


Vitório Vilas

Sunday, February 11, 2007

ignorem... hoje é domingo.

.


além d'ali
existe aqui
além do mais
existe menos
do que temos
ou nunca teremos
sempre seremos
além
aquém
no meio
do tiroteio...

além do certo
existe o óbvio
aquém do incerto
onde é tédio
aqui no prédio
apertamento 101
que apesar de grande
nunca cabe mais um
por ser grande demais
minha solidão...

criatura estranha
essa que vos escreve
reclama que é plana
que é plena sua verve
superficial é o cerne
é quem declama
versos ao silêncio
vivendo de cadência
decadência de suas rimas
como se fossem primas
gentis lembranças
de quem um dia quis...

um giz
e tudo muda de pose
um triz
pra sempre "e se fosse"
um dia... alegria
um outro... desgosto
desgostado
pífil
vil
vão

embora.


Vitório Vilas

Thursday, February 01, 2007

desabafos emeesseênicos à amiga marília

.


pode crer... o tédio ainda me mata
já li livro... já reli os melhores capítulos...
já escrevi... deletei depois....
comi feijão, peixe, purê e arroz...
assisti o jornal...
fiquei bem... fiquei mal...
sentei... levantei... deitei...
só não dormi pq ninguém dorme de tédio....
já desci do meu prédio... depois subi de novo....
ja gritei, calado, SOCORRO... dona socorro não ouviu...
gritei, baixinho PUTA QUE PARIU...
nenhuma puta ouviu, que pena...
já fiz cena pra amiga no emeesseêne...
já escovei os dentes...
não penteei o cabelo, dá pra sacar porque....
já fiz tanto... fiz sei lá o que...
e ainda é uma hora...
que demora da porra pra o tédio acabar.
alguém, por favor
me socorra
antes que eu morra
de tédio

- de tédio ninguém morre, seu moço

ié? que saco...
que fundo sem poço
de tédio não se dorme
de tédio não se morre
de tédio só se enche
o saco, que saco.

- fatboy slim mais tarde?

não gosto.

- ai, que tédio.


Vitório Vilas

Tuesday, January 30, 2007

coming soon

.


andei pensando em lançar um livro
quem sabe assim me livro
de emprego e preocupação
imagina, meu nome em livraria
livraria minha cabeça
de preocupação
ainda mais se eu vendesse...
ah, se eu vendesse
a fórmula pra felicidade
o descanço pra o cansaço
a saída da cidade...
o molejo do safado
o calçado do chulé
30kg do prensado
pra baiana, samba e pé
ah, se eu vendesse
minh'alma pra o diabo
quiabo pra salada
amante pra safada...
pra vovó mafalda
fralda pra idoso
com incontinência urinária
e um programa de tevê...

quem vê e nota
em mim espírito empreendedor
mal sabe que em mim denota
alma de um grande perdedor







mas ainda digo
um dia lanço um livro.
quem sabe assim me livro, enfim
dessa vontade...


Vitório Vilas

Friday, January 26, 2007

garoto em frente ao espelho

.


ah, ela eu não conheço
mas muito ouvi falar
sobre ela, dizem
"bela"
passa o dia na janela
esperando ele passar...

ele? ele quem?

ah, ele, qualquer um
eu, ele, tu
algum outrem

ah, então ela ainda
vive só

fala sério, tenha dó
tu jura que vive em tempos
de trova
ou treva
digo, sim, ela anda só
mas não garanto que não...

não termine, por favor
não aguentaria ouvir
tal coisa sobre meu amor

acorda, homem
ela é bela
mas quem disse que é santa
aquela cadela?
te pisaria e zombaria de ti
ao primeiro sinal de teu amor
por ela...

ah, mas ainda assim eu a quero
e espero que seja recíproco

ai ai, esse quiprocó
ainda vai dar o que falar
deixa de ser bocó
vai passear, curtir
namorar quem te queira
e quem te trate bem

ah, mas você também
fica aí botando pilha

ah, é? pois vai
quero ver... ela te humilha
e depois? ficamos aqui
nós dois
concordando, enfim
na lágrima que escorre
pelo nosso rosto...

pois prefiro morrer
de desgosto
a sofrer de dúvida

então vai

vou

vai

vamos

lá.

olá, como vai?


Vitório Vilas

a luta e o luto

.


o luto sempre acaba
a luta sempre termina
o luto sempre acalma
o que a luta contamina

menina, pára de chorar
já fez-se mar
já sabe que amar
independe de vida

faz fazer falta
até pra quem não conhecia
define a pauta
do resto do resto do dia

lágrimas... lágrimas...
soluça. respira.
lágrimas... lágrimas...
banho. transpira.
lágrimas... lágrimas...
lava o rosto. escova os dentes
lágrimas... lágrimas...
"será que o mundo está doente?"
lágrimas... lágrimas...

meio-dia.
passou no jornal
sensacionalismo sensacional
passaram mal

meio-dia e meio.
viagem maldita
há quem acredita
em céu e inferno
o inferno é aqui
sobre essas quatro rodas...

uma hora em ponto.
bato meu ponto.
ponto pra você, vida
hoje a tarde eu vou esquecer...

"olá, boa tarde. tudo bem?"

é, o mundo está doente.


Vitório Vilas

"..."

.


tiros pra quem te quero
mas quem te quer?
não te queria aquela mulher
no entanto, feito paixão
penetraste a carne dela
enviaste para o caixão
parou o coração
parou a vida...

vida errada, bala perdida
vida errada, alma bandida
mas bala não tem alma
bala não tem calma
bala tem pressa
pressa de parar

3 tiros
uma senhora
inúmeras lágrimas

3 tiros
nenhuma penhora
inúmeras lástimas

fica a lembrança
fica a tristeza
fica o resto do dia
sem a menor beleza

fica com deus
pra quem acredita

a vida é infinita
pra quem acredita

pra quem acredita...

eu... não.


Vitório Vilas

Wednesday, January 24, 2007

sobre as sobras até aqui

.


me dê ouvidos
ou as costas
me dê sentidos
ou respostas
mas não me faça esperar...
não procuro amigos
não procuro apostas
sou risco de vida
sou a vida entreposta
nas entrelihas
das linhas tortas...
sou das portas
aos portais
dos postos
aos postais
dos velhos malucos
aos generais
só não me faça esperar...
se me quer por perto
me leve no bolso
sou moço, seu moço
mas bobo não sou
sou mais meu
do que já fui
de um grande amor
sou caco, sou dor
o mais puro torpor
o mais puto da vida
se me fizer esperar...
de lua não sou
mas prefiro a noite
pra dormir
pra trepar
pensar, sorrir
sair, trabalhar
prefiro a noite
se for pra esperar...
pelo próximo dia
que um dia virá
tenho pressa que chegue
espero, sem desespero
com pressa, mas nunca depressa
demais
sou capaz, rapaz
de curtir e amar
só não me faça, meu bem
te esperar...


Vitório Vilas

"eu conheço você".

.


não quero ficar velho e louco
talvez com um pouco de sorte
a morte me leve antes
que a insanidade
causada por algumas verdades
que não consigo encarar

vi hoje, mais cedo
um certo senhor
aparência de causar medo
angústia de causar dor
ia passando e meteu o dedo
em minha cara
e me disse
"cara, eu conheço você"
pobre louco, louco pobre
atitude nobre tomou
quando viu que me assustou
pediu desculpas já de longe
e eu, paciência de monge
fingi que nada daquilo era comigo

ah, olhei apenas pra o meu umbigo
pobre louco, louco pobre
queria, talvez, apenas atenção
aparência de dar dor no coração
cheiro que enoja
e faz querer vomitar
balelas ao ar
hora é rei do mundo
hora o mundo o odeia
tudo que o rodeia
é o fundo do poço
será que, quando moço
o louco pobre, pobre louco
era assim como eu?


Vitório Vilas

pois bem, tchau................................ oi.

.


como seria se eu fosse embora, hein
quem ocuparia aquele lugar à mesa
de qualquer bar ou restaurante
que você
for
quem seguraria a lágrima
quem sopraria o ardor
ah, meu amor
me diz como seria
se eu fosse embora
passariam-se anos
ou tu arrumaria outro
sem mais demora
tu invadiria a minha casa
em busca de mim
ou dos móveis, dinheiro
roupas e afins
pra quem tu dirigiria de agora
em diante
pra qualquer playboy infante
ou pra ti, só pra ti
em busca de mim
diz pra mim, meu bem
antes que eu vá embora
de carro, a pé ou trem
diz pra mim, meu bem
antes que eu me vá
dessa vez sem vontade
de voltar...


Vitório Vilas

Tuesday, January 23, 2007

se... garro. se... paro. se... eu conseguir dessa vez.

.


um dia desses parei de fumar de novo. sei lá há quanto...
não sou desses que conta o tempo das coisas que deveriam ser para sempre.

talvez dessa vez eu consiga
de repente, mais uma vez apenas tente
quem sabe... talvez
o futuro nos mostra tanto
tão sem nitidez

mas é que coube em mim
uma vontade imensa de mudar
de mandar um pouco mais
em quem me vive o dia-a-dia

e o tosse-tosse já andava mesmo
um pé no saco...

o caso é que meu caso
com o cigarro
deu um tempo assim, pra sempre
espero... nunca mais fumar
um cigarrinho
durante
minhas
esperas...


Vitório Vilas

sobre meninos, meninas e seres que lêem e bebem café

.


leio os alheios
alheio ao que leio
leio, releio
e novamente de novo
leio também
procuro coisa onde
na verdade nada tem
procuro sentido
e fico sentido
se sinto o que sentem
os alheios que leio

pensei um dia desses
num dia desses nada demais
que qualquer um é capaz
de escrever tal mensagem
que signifique tanto
pra mim quanto pra si
ou pra alheios...
necessário é
apenas
fazê-lo com amor

e um bom portuga, é fato

no mais, fico aqui
no meu café
e um prato com queijo
assim, tipo desejo
de fim de férias
pinto misérias
em minha noite
um açoite a minha paz
porém, assaz necessária
para que amanhã
chegue...


suco de maracujá
passa pra cama, garoto
é pra já.


Vitório Vilas

Friday, January 12, 2007

ainda existe

um dia desses tentei compor uma música. ontem consegui.
.


às vezes não dá pr'aguentar
com os pés descalços
com os pés no chão
às vezes é tão proibído
é tão sem sentido
ouvir a razão
e quando você se surpreende
com tudo de novo
de novo nada mudou
sente não tão já de repente
nas mãos um estorvo
que nunca pesou

é quando você sente medo
e procura uma mão
mas não há nem um dedo
pr'apontar a direção
é quando você quase esquece
mas já sempre a tempo
vê, tudo mudou
você ainda existe
aqui...

é quando já vai sem saída
já não há mais medidas
de cura ou de prevenção
a fala já sai tão perdida
já não mais acredita
vir do coração


Vitório Vilas

Thursday, January 11, 2007

abra-se

.


janela aberta é muriçoca na certa
porta aberta me dá medo de ladrão
peito aberto me dá frio na barriga
é o medo do incerto viver tão aberto...

mão aberta vez por outra é prejú
olhos abertos, quase sempre déjà vu
mente aberta é sapiência de sobra
boca aberta, eu gosto de tu

geladeira aberta é gasto
carteira aberta se tem lastro
tudo que tá aberto um dia fecha
todo vento precisa de um mastro
se a vela estiver aberta
bem aberta...

então aperta o cinto
fecha a porta
e abaixe o vidro da janela
encare o vento
de cara aberta...


Vitório Vilas

Monday, January 08, 2007

foda-se

.


infarto, infanticídio
fanta uva, falta indício
falta tempo
farta nada, falta tudo
fático, fatídico
fatalidade
fonemas e telefonemas
há penas
apenas cenas
de um dia-a-dia
farto
estou farto de você...
que é ninguém
mas algo
tão factual


Vitório Vilas