Tuesday, August 29, 2006

Segunda, 29/08/2006, 21h33. *constatada alta presença de apatia no sangue

Ele toma um pouco de café no lugar da coragem
E inventa alguma pra poder levantar
Pobre jovem... Apatia em si fez imagem
Contamina tudo o que toca, inclusive o ar
E hoje ainda é segunda...

Roubaram-lhe os livros, os discos, as fotos e o sol
Fez-se noite em sua vida, sem palavras, música
Pessoas ou sons
Para os justos e bons, café. Para os demais... Só
E hoje ainda é segunda...

Da porta da casa que já não bate mais
Fez-se símbolo de sua solidão
Grades nas janelas não o deixam em paz
Levaram-lhe por último o irmão
E hoje ainda é segunda...

Não há mais motivo para TV
Ninguém mais... "reggae a vida com amor"
Não há mais dor, apenas solidão
Quem sabe um dia, de novo, a gente se vê

Mas não hoje... Pois ainda é segunda.


Por Vitório Vilas

Monday, August 28, 2006

O vinho açoita sem dó minha sobriedade
Enquanto caminho nu e só pela cidade
O vento castiga minha pele e juízo
Deveria eu ter lido o aviso?

O silêncio explode bem dentro de meu ouvido
O zunido que sopra me abraça... "Boa noite, querido"
Diz uma voz oriunda sei lá de onde
Deveria eu ter parado desde ontem?

Id diz: beba vinho
Super-ego diz: ...
Id nada escuta. É surdo o pobrezinho
Super-ego nada vê: Além de mudo, é cego

E o ego, cêntrico que só ele
Mata id e super-ego sem menção de lamento
Bebe vinho pois tem pra si que a vida é curta
Imagine então quão curto é o momento

Que acabara de ser e nunca mais o será
Sem botão ou função rebobinar
Cale-se agora e beba vinho... Beba vinho... Beba... Vinho...
Beba... Vinho... Beba... do... melhor. Vinho...


Por Vitório ...irc...burp... Vilas

Soneto da infelicidade

Para quem precisa de silêncio, caixas de som no mais alto volume
Incólumes de qualquer vácuo que possa separar o espinho da dor
Para qualquer ser por demais apaixonado, um beijo seco, o azedume
E a certeza de que o outro sente... Qualquer um... Mas não amor
Para quem é vivo, morte. Para quem é morto, que continue assim
Para quem precisa... Necessidade sem fim
Para quem tem voz e fala, afonia extrema sem causa aparente
Para quem se fecha e cala, uma dor no céu da boca e um corpo doente
Para quem tem sono, a luz do sol e olhos abertos, azuis
Para quem tatua, as rugas e a ferida aberta... O pus
Para quem sente saudades, distância
Para quem tem pressa, eterna infância
Para o poeta, a bailarina de perna quebrada
Para o palhaço, a mais sem graça das piadas
Para toda rua, uma beco sem saída
Para o inferno... Tudo e todos.


Por Vitório Vilas

Sunday, August 27, 2006

Elegi sem saber ao certo porque eleger
Me fora oferecido pão, circo e uns sacos de cimento
Motivo melhor não poderia haver
Elegi como quem solta palavras ao vento...
Elegi quem, bem sei, mas não
O que pretende fazer
Mas minha barriga hoje não dói de fome
Meu voto, senhor, é minha moeda
Direito tem quem vive como homem
Elegi, sim, sem pensar na maioria
Por sentir na pele a tal democracia
Que julgam tão justa em seios meios e fins
Nunca vi essa tal democracia pensar em mim
Elegi pois tenho fome e frio
Elegi pois em minha cidade não corre um rio
4 cestas básicas, caminhão pipa e 10 sacos de cimento
E um show da dupla sertaneja mais conhecida no momento
E me vem você que nem se lembra quem elegeu
Dizer que eu não sei votar
Quem mais sabe, e quem elege, sou eu


Vitório Vilas
Inclina mais um pouco esse espelho
E, como que sem querer, me encara
E dá as costas pra mim
Me mostra como é lindo teu cabelo
Me deixa tecer, minha cara
Teu belo nome sem fim
Me espera na saída com teus livros nos braços
Ah.. como eu queria me esquecer em teu abraço
Que não foi feito pra mim
Desata todo e qualquer laço
Que prenda teu cabelo e te deixe longe de mim
Ah... Quem me dera poder te querer
Mas só quero querer não querer te poder
teus lábios nos lábios teus, que são meus
Mas não os seus...
Agradeço aos céus por ires embora
Antes da hora em que passo por ti
Pois não aguentaria vê-la e ver teu sorriso
E de volta pra ti não poder sorrir
Pois sou um bobo, e admito
E bobo sou pois acredito
Que o amor... Ah, o amor à primeira vista
Exista... mas apenas dentro de mim


Vitório Vilas