Monday, February 26, 2007

dia desses amiga marília perguntou por mim

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- e tu, como tá, hein!? tá sumido...

- eu tô sumido, pô...
quase n me vejo em espelhos... sei só que ando por alguns cantos que também frequento. mas é coisa rápida, quase nem me noto...
é que eu ando ocupado, entende? trabalhando demais.
quase não dou atenção pra mim mesmo...
só não me deixo pq sem mim não vivo...

- e se não fosse eu, quem repetiria pra mim todo santo dia que preciso voltar a malhar, entrar numa dieta e cuidar de mim?

- hahahahahahahahahahahahahaha. e nem o senso de humor, claro.

- é... admito que eu tenho senso de humor. meio estranho, mas tem lá seu charme. ahhh... quer saber. eu me amo.


Vitório Vilas

Friday, February 23, 2007

um sobre as verdades dos outros...

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entre conversas e cervejas
disse-me um amigo, em tom sério

-poesia é coisa de veado ou vagabundo.
quando não os dois.

engoli a seco o deletério
sempre me senti estranho, pois
tomo mais uns goles, uns dois
e volto andando pra casa.


-pai, mãe, tenho algo a falar.

-finalmente, filho, vai casar?

-não, mãe. não posso. sou poeta.

meu pai, que sempre quis uma neta
pôs-se a chorar
minha mãe sorriu. já sabia
desde pequeno sempre ouvia

-leva jeito esse meu filho
com as palavras.


noutro dia, no trabalho
minha chefe ouviu de mim

-tenho algo a falar.

-pois bem, queria mesmo te dizer
serás promovido. parabéns.

-não posso. sou poeta.

-e a vergonha, não tens?
some daqui! já.
e sumi de lá.


sumi de lugares.
sumi de amores.
desejos fugazes.
tornaram-se dores.

cores esmaeceram-se
do preto e do branco
restou pó.
mas me assumi poeta.
poeta e só.


Vitório Vilas

Thursday, February 22, 2007

não leia.

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não adianta... não adianta forçar. já é a quarta ou quinta vez que apago versos e mais versos, que não têm culpa da falta de assunto que viriam a expressar se não tivessem sido apagados. mas que culpa tenho eu? nenhuma. é da vontade de escrever que os versos que quase foram o que nunca mais serão deveriam estar com ódio. um cemitério de versos essa vontade criou. um cemitério abstrato, de palavras que morrem e voltam, que voltam e morrem, num ciclo incessante. é da vontade que dá, que não consigo controlar.

de minha parte, há apenas a culpa por não me entender, deixando assim que os pensamentos materializem-se ao bel prazer dessa vontade. vontade de dizer... tudo. e depois apago. é assim meu desabafo. escrevo, leio, apago. não há sequer o cheiro do hálito no ar para provar que falei o que, habilmente, calei.

e o cemitério cresce.


Vitório Vilas

Friday, February 16, 2007

poemo-novela

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pois é... já ouviu falar?
resolvi começar
um dia, quem sabe, termino
com final feliz
toda sexta, um pedacin
um capítulo, um versin
dessa estória que poderia acontecer
com qualquer um...


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rogério é um cara quieto
prefere ficar sob a luz de um teto
que sob a luz do luar
videogame à festa
diz que esse tipo de coisa
não presta, que é violento demais
rogério, apesar de recifense
nunca brinca carnavais
prefere todo o aconhego do lar
seu silêncio, sua paz
sua mãe e a comida dela
e também a janela...
ahhh... a janela.

rapaz quieto e bastante esforçado
rogério, como em todo santo dia
e dia santo também
durante o dia, sempre sai pra trabalhar
em um desses trabalhos quietos
quietos demais até pra um cara
quieto como rogério...

no trabalho, rogério é sério
faz o que deve, que é pra nunca
dever nada a ninguém
senta, trabalha, levanta
toma um café...
vai ao banheiro sempre depois
da água, que é pra "não diminuir
a produtividade, né?"
há quem duvide até que rogério
exista de verdade...

na cidade em que vive, seu intinerário
é simples e quase sempre invariável
casa, trabalho... trabalho, casa
mercadinho, todo dia
vez por outra, padaria
é que lá, sua mãe faz questão de ir
bom dia/tarde/noite pra um vizinha
que quase sempre sorri
"ah, minha filha, é tão bom esse moço
o rogério. rapaz tão sério. por que você...?"
e a gordinha suspira...
"ai, mãe, como eu queria... como eu queria..."

e pelo visto não era ela a única a querer
rogério, rapaz tão sério...




continua...


Vitório Vilas

Sunday, February 11, 2007

ignorem... hoje é domingo.

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além d'ali
existe aqui
além do mais
existe menos
do que temos
ou nunca teremos
sempre seremos
além
aquém
no meio
do tiroteio...

além do certo
existe o óbvio
aquém do incerto
onde é tédio
aqui no prédio
apertamento 101
que apesar de grande
nunca cabe mais um
por ser grande demais
minha solidão...

criatura estranha
essa que vos escreve
reclama que é plana
que é plena sua verve
superficial é o cerne
é quem declama
versos ao silêncio
vivendo de cadência
decadência de suas rimas
como se fossem primas
gentis lembranças
de quem um dia quis...

um giz
e tudo muda de pose
um triz
pra sempre "e se fosse"
um dia... alegria
um outro... desgosto
desgostado
pífil
vil
vão

embora.


Vitório Vilas

Thursday, February 01, 2007

desabafos emeesseênicos à amiga marília

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pode crer... o tédio ainda me mata
já li livro... já reli os melhores capítulos...
já escrevi... deletei depois....
comi feijão, peixe, purê e arroz...
assisti o jornal...
fiquei bem... fiquei mal...
sentei... levantei... deitei...
só não dormi pq ninguém dorme de tédio....
já desci do meu prédio... depois subi de novo....
ja gritei, calado, SOCORRO... dona socorro não ouviu...
gritei, baixinho PUTA QUE PARIU...
nenhuma puta ouviu, que pena...
já fiz cena pra amiga no emeesseêne...
já escovei os dentes...
não penteei o cabelo, dá pra sacar porque....
já fiz tanto... fiz sei lá o que...
e ainda é uma hora...
que demora da porra pra o tédio acabar.
alguém, por favor
me socorra
antes que eu morra
de tédio

- de tédio ninguém morre, seu moço

ié? que saco...
que fundo sem poço
de tédio não se dorme
de tédio não se morre
de tédio só se enche
o saco, que saco.

- fatboy slim mais tarde?

não gosto.

- ai, que tédio.


Vitório Vilas