Tuesday, November 28, 2006

né o logismo da coisa?

escrever bem, seria
como diria alguém
observar a pacóbviedade
das coisas
e aguardar óncioso
por coisas que outrora
outrem...

e que fiquem as idéias que valem
níqueis
e níqueis de mais nínqueins.
cem sentidos
tem tanto sentido
que acaba sem.


Vitório Vilas

"próximo"

.


ah, filas das putas
já não as agüento mais
tantas vezes estas formentam
disputas
mais parecem verdadeiros bacanais
mal educados, mais educados
na frente, no meio, atrás
são todos iguais
são todas iguais...
sacais, um saco
seja no supermercado
na xerox ou no restaurante...
ah, essa entidade tão presente
na vida de um estudante
quase nunca revela beleza...
mas de repente
num gesto de gentileza
a fila da puta
cede, enfim
e uma conversa, um sorriso
ou algo assim
cessa a disputa
mas sempre, sempre haverá
começo...
...meio...
... e fim. e fim. e fim...
ai de mim...


Vitório Vilas

meia culpa, toda tua

.


uma face estúpida tua
me foi mostrada
tua mente
teu ventre
tua rua toda já sabe
nem tente esconder de si
toda essa verdade
ah, e foi só por vaidade
"te dói se menti?"
"te irrita se fugi?"
"que te importa tudo isso?
te mostro a porta da rua
ou te dou um sumiço"
que é isso, amigo
de mim não emana
perigo
mas pedir agora por abrigo
é abusar...
usa agora desta tua energia
alegria e virtude
estude a melhor maneira
de sair dessa
não perca tempo com
promessas
a remessa de bons resultados
foi enviada há muito pra o fim
esqueça esse jogo de dados
não seja mais assim... você pode
só que agora, desculpe, sem mim


Vitório Vilas
17.11.06

?

.


de que vale um coração
descompassado
de que adianta um cérebro
se o mesmo é tão desmiolado
de que adianta a mão
que não se atreve a jogar
o dado
prefere passar o resto
da vida de mãos dadas
com nada demais...
de que serve tanta paz
se não é capaz
de lutar pelo que é certo
de que adianta ver o mundo
tão de perto
se o faz pela TV
de que adianta crer
e pedir o tempo todo
por mais tempo
de que adianta um contratempo
se quem faz, rapaz, não é você
de que adianta...
pra que serve...
o que fazer com essa tal
de vida
divida.


Vitório Vilas
17.11.06

Thursday, November 23, 2006

Homonímia

.


Ah, o selo...
Sê-lo deve ser uma viagem só.


Vitório Vilas

Wednesday, November 22, 2006

furto cotidiano

.


minha vida é tão cotidiana
que por muitas vezes
amo quando posso me ausentar
dela
mesmo que não mais de
quatro horas
sem mais demora
me mando embora
para um mundo
hora belo, hora imundo
onde recortes
da minha morte cotidiana
são exibidos sem cortes
de forma leviana
mostrando como pano de fundo
lembranças que roubam a cena
que pena
da bela pena do pavão
do choro do Leão
da bela praia paradisíaca
que alivia a lembrança
do dia
da voz do vento
da distorção do tempo
do silêncio, da paz
afogamentos
um dia desses pude voar...
roubam a cena do ar
tiram do ar o sonho.


Vitório Vilas

Wednesday, November 15, 2006

"não existe mulher feia. foi você que não bebeu demais."

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te amo e te aprecio
sem moderação
me embebedo de ti
com paixão
te bebo na boca
até a última gota
cê veja que quero
contato direto
com teus fungos
que fermentam
formentam
comentam sobre
meu estado
de embriaguês
acho que já
virei freguês
do teu bar
de mesa em cama
casa, comida
roupa lavada
não são nada
perto de tanto
sexo, amor e leveza
que se sente ao sentar
à mesa e beber de ti



Vitório Vilas

problemas?

.


quem é que tem problemas, na verdade?
o moço que perdeu a avó
a garota que hoje em dia
vive só
o casal que, novo na cidade
não conhece ninguém
e ninguém os reconhece mais
como os outros que ainda são casais
quem é que tem problemas, na verdade?
o oriente médio, que precisa de paz
ou a classe média, que perde seu poder de compra
com o passar dos natais
seria eu, que já não sou capaz
de me reconhecer como pleno
já não mais sereno
demoro a perceber que problemas mesmo
não são os meus
os seus? me interessa mais
resolver os que não tenho...
mas que ainda assim me aflingem a alma
me roubam a calma
me levam embora
tudo aquilo que comemora algo
em mim
sendo assim
quem é que tem problemas, afinal?


Vitório Vilas

Thursday, November 09, 2006

10 minutos do seu tempo.

.


é tudo que peço.
obrigado.

mas não vá perder
o bonde
diga ao conde
que ele vai se locomover
sempre à sua velocidade

nessa cidade em que vivemos
eu digo pra que mora aqui
assim sempre seremos
mas somente aqui
em casa... nossa casa

mas não gastarei mais seu tempo
que pedi emprestado por 10 minutos
seja rápido ou lento
por consideração ou passatempo
vá lá
leia.


obrigado.

Wednesday, November 08, 2006

.


o ânus é
o ônus da prova
cabe a ti, então
dá-lo pra mim
a fim
de que se prove
do ãnus
do ônus
e do crime
imagine...
prometo entrar
de cabeça primeiro
e só depois me enfiar
por inteiro
nessa investigação
sem julgamento
mas com veredito
é já gula ação
cu
ja
veracidade
dar-se-a
assim que o martelo
acabar de bater
de comer
teu cu


Vitório Vilas

D x em qdo

.


meu devezemquando
não tem quando certo
pra ser
sempre espera sua vez
pra acontecer
numa fila da puta
mas permanece na luta
só desiste mesmo
de vez em quando

de vez em quando
eu bebo
de vez em quando
eu cedo (tarde, é verdade)
de vez em quando
eu grito
de vez em quando
me omito
de vez em quando
eu sinto que
de vez em quando
eu falo
eu calo
demais
mas de vez em quando
bem de vez em quando mesmo
paz


Vitório Vilas

Monday, November 06, 2006

e-lha (eletrônica ilha)

.


Já é noite. Todos se encontram sentados da maneira mais confortável que lhes é possível. Todos, alimentados na proporção da grandeza de seus jantares, unem-se agora, cada um isolada e anonimamente, conectado pelo príncipe eletrônico e sua mensagens informativas, recreativas, destrutivas, abusivas ou comerciais. Seja qual for o assunto, todos compartilham desse agora eletrônico, hora cômico, hora trágico, fatídico ou fático, o fato é que não há uma multidão, por mais solitária que seja, que escape desse momento tão singelo. Não há discussões, tensões, transformações coletivas, porém há as coletivizantes; aquelas que atingem o todo, individualmente, sem que seja percebido por cada um. A indústria da manipulação da convivência mascara a solidão dos indivíduos com a solidariedade de um Criança Esperança, um Teletom. Doa-se para quem nunca se viu. Não seria essa nada mais nada menos que a essência da solidariedade? Ledo engano, pois doa-se o que? Tempo é dinheiro, mas o contrário, nesse caso, não pode ser dito. Esmola on-line, ao alcance de um digitar de números. Através do príncipe eletrônico, cria-se a falsa idéia de participação e integração, quando na verdade cada um é íntegro em si mesmo e só.


Vitório Vilas

Saturday, November 04, 2006

casa, comida e roupa lavada

.


-meu amor, já não te ensinaram
que eu tenho sempre razão?
-sim, senhor, mas é que aqui
se come mesmo é com a mão
-mas eu quero garfo e faca,
minha filha, e quero agora
-se o senhor gritar assim
terei mesmo é de ir embora
-ô, meu bem, faça isso comigo
não, desculpe
-meu senhor, não se culpe
mas me compreenda
nessa estória de "calcinha de renda"
há quem tente comer com colher de pau
-mas faz mal? minha colher é tão limpa
-ah, faz sim. e não me tome
por um ser deveras drástico
mas só comeras aqui
se com colher de plástico
-então tá
-pois venha cá
-já fui
-ui
-foi com força?
-foi não. é que minha
carne ainda é meio moça
-e tão macia...
-vejo que o senhor aprecia
-mas se não!
-então vem, começa pelo pão
penetra com teus dentes
com movimentos intermitentes
penetra com tua colher
de plástico
vê como é elástico
esse miolo de carne
-ah, como é verdade
-então vem, ejacula
em mim tua saliva
enfia, tira, remexe
e mexe tua colher
me faz me sentir
mulher
me faz me sentir
comida
-ah, querida...
satisfeito?
-tenha certeza. mas ainda te como
a sobremesa


Vitório Vilas

Friday, November 03, 2006

Náutco 5 x 1 São Raimundo

.


poesia mesmo, de verdade
foi ver o melhor time da cidade
e sua torcida majestosa
fervorosa, querendo vitória
e vitório lá no meio
cheio de cerveja, cê veja com'é.
hehehehe
acertou bem em cheio
um amigo que disse
"5x1, visse?"
estava tão certo
que nem liguei
quando vi, de perto
meu timbu levar aquele gol
que que tem?
semana que vem tem mais
continua acertando assim, meu rapaz
que eu quero ver a alma alvirrubra
levantando as mãos
e "ôla", é "olé"
mostrando como é
que se torce
durante noventa minutos
sem parar... sequer um segundo


Vitório Vilas