Saturday, November 04, 2006

casa, comida e roupa lavada

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-meu amor, já não te ensinaram
que eu tenho sempre razão?
-sim, senhor, mas é que aqui
se come mesmo é com a mão
-mas eu quero garfo e faca,
minha filha, e quero agora
-se o senhor gritar assim
terei mesmo é de ir embora
-ô, meu bem, faça isso comigo
não, desculpe
-meu senhor, não se culpe
mas me compreenda
nessa estória de "calcinha de renda"
há quem tente comer com colher de pau
-mas faz mal? minha colher é tão limpa
-ah, faz sim. e não me tome
por um ser deveras drástico
mas só comeras aqui
se com colher de plástico
-então tá
-pois venha cá
-já fui
-ui
-foi com força?
-foi não. é que minha
carne ainda é meio moça
-e tão macia...
-vejo que o senhor aprecia
-mas se não!
-então vem, começa pelo pão
penetra com teus dentes
com movimentos intermitentes
penetra com tua colher
de plástico
vê como é elástico
esse miolo de carne
-ah, como é verdade
-então vem, ejacula
em mim tua saliva
enfia, tira, remexe
e mexe tua colher
me faz me sentir
mulher
me faz me sentir
comida
-ah, querida...
satisfeito?
-tenha certeza. mas ainda te como
a sobremesa


Vitório Vilas

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