Monday, April 23, 2007

sobre as tampinhas de garrafa

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doce que nem você
ah, guria, não há
doce que nem você... doce que nem você...

sorte que nem se vê
que pega ou dá
sorte que nem você... sorte que nem você...

bote quem nem percebe
se usa sal ou orégano
pernas pra quem te quero... pernas pra quem te quero...

tampinhas de garrafa
meu calendário
mostruário do que fiz
e do que virá por aí. do que virá por aí.


Vitório Vilas
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sei muito bem o que as tampinhas de garrafa
querem dizer
não precisa me relembrar
já me quero assim
mesmo com o balanço de tuas pernas
não adianta balança-las demais
é sem retorno
donde estou eu não volto mais não...

inenarrável
mais ou menos por aí
como é aqui
direitos inalienáveis
não valem de nada
estou imune a dor...

entorpecido...

e lá se vão as tampinhas de garrafa...

e lá se vai você...

e lá se vai uma boa noite...

e mais um copo...

e mais um gole...

pega...

esse vinho pega... rápido.


Vitório Vilas

Saturday, April 21, 2007

a cada dois dias.

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http://www.fotolog.com/curtinhas/


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Friday, April 20, 2007

quando do esquecimento...

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disse a ela assim
"de ti tudo sei"
e tudo quanto é rei
calou-se diante dele

deu um passo a frente e falou
"pra ti tudo sou"
e tudo quanto é rei
diante dele ajoelhou

mais um passo...
"do teu coração sou marcapasso"
e no compasso da cadência de sua voz
todo rei deixou de lado o "venha a nós"

dessa vez os passos foram cinco
mais próximo, estendeu a mão
e deu a ela um brinco
disse "usa sempre. não tira nunca"
e todo rei considerou seu castelo
espelunca

"quem é você, ó, belo rapaz?
capaz de calar os reis
e seus generais
em uma vida só, viver seis
ser freguês e ser capaz
ostentar tanta dor no peito
e aguentar sempre mais

quem é você, rapaz direito
quem é você?"

deu mais um passo a frente
agora o último
e, súbito suspiro, respondeu
"quem? eu?"

"eu era. não mais"

e tudo quanto é rei
teve de volta a paz.



Vitório Vilas

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é tudo sempre igual. é tudo sempre igual.
repetições, variações sobre um mesmo tema.
é tudo sempre bonito. é tudo sempre bonito.
tudo feito pra que ninguém tema. ninguém tema.

o novo, o ovo
a novidade
tudo feito igualzinho a ontem
pra que ninguém tema
o novo, o ovo

é tudo tão ímpar. tão ímpar.
feito uma novela ou um jogo na TV
imprevisibilidade, a novidade do verão
em pleno inverno.

é tudo tão assim, tão assado
os dados sempre sendo lançados
viciados
em decidir da vida dos outros
o que será e o que deixará de ser

é tudo tão sempre assim.
assim, de trás pra frente.
assim, de frente pra trás.
quer ver?


Vitório Vilas

Tuesday, April 17, 2007

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imagina se a vida se arretasse
e começasse a jogar as coisas
que nela a gente jogou indevidamente
durante a vida até o momento presente
ia ser um "deus nos acuda"
chicletes cairiam do nada em nossos cabelos
pedras voariam aos montes, quase que como balas
passando zunindo em nossos ouvidos
"um prédio alto, pingos de ar/ondicionado
porra nenhuma... é cuspe mesmo"
bolinhas de papel seriam como a neve
de lugares quentes
bitucas de cigarro, a chuva ácida
dos frios
vasos de flotes seriam o índice mais
elevado de causa-mortis de todos os países
do mundo...

seria deveras tosco de ver
palavrões sendo jogados pelo vento
nos ouvidos das pessoas
vômito aparecendo nos ônibus
árvores com um cheiro natural
de urina
as ruas seriam asfaltadas em purpurina
poeira seria confete, caindo pelas janelas
dos apartamentos de primeiro andar

de tudo isso ri-se

mas não dos que a vida toda
passaram jogando bombas
balas
mentiras
não dos que jogavam sujo
que jogavam com as duas mãos
jogavam feio
creio que não se ririam
dos que jogavam os homens
aos leões
fumaça aos pulmões
não se ririam deles

disso não se ri

afinal de contas, eles não vivem sós
esses que jogavam bombas e coisa pior
vai que teu pai, tua mãe ou teu filho
é um deles
teu marido ou amigo, qualquer um...

não... não seria mais engraçado.

nunca é engraçado quando jogam
coisas em nós indevitamente.


Vitório Vilas

Monday, April 16, 2007

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e não é que quando percebi
já era meia-noite
da suspresa fez-se o açoite
da noite fez-se madrugada
com uma granada sem pino
nas mãos
corri feito um louco varrido
pela vassoura dos teus sonhos de mel
a granada ainda nem explodiu
e já me pergunto "aqui é o céu?"
porque se for quero descer...

tenho medo de altura
mas nunca tive medo de voar
deve ser porque não sei direito.

tenho muita amargura
por toda vez que tentei tentar
mas nunca saí daquele parapeito

deve me estar no dna
a diferença entre ser homem
e voar
de nada deve adiantar, porém
saber das ciências pra resolver
tal questão

tem de saber é de si.

saber de casa e de cada um
que a frequenta
saber que escreve com pena
a mão que aguenta
saber que acena pra vida
quem quer
pois é assim que ela acena de volta
saber que o mundo dá voltas
mas quase nunca tem vaga pra todo mundo
enfim... saber de tudo um pouco
e de pouco um tudo. e vice-versa

mas falávamos mesmo era de voar
e das peripécias que faria quem
o fizesse.
ir ao céu e voltar a hora que quisesse
descer de lá quando estivesse chato
e voltar quando legal

mas pra voar tem que saber muitas coisas
e eu gosto de ser passivo das coisas
talvez um dia alguém me leve...

é. talvez um dia alguém me leve.
dou-me por satisfeito.


Vitório Vilas

Sunday, April 15, 2007

cego, não nego. enxergo quando quiser.

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aí eu disse assim
"tenho nada mesmo com isso..."
"fazer o que?"
pra começo de estória, mentiram
pra mim
e o fizeram mais ou menos assim...

colocaram em minh'água
um negócio invisível
porém, bastante digerível... engoli
sem sequer pecerber
quando vi, não podia mais ver
pensei cá com meus botões
"deveríamos nascer com botões
e funções do tipo rewind"
mas voltando...

cego, e não nego
rumei sabe-se lá pra onde
não podia ver. só sei que subia
pra onde ia era difícil de ver
pra piorar, estava escuro...

topei em algo duro
pensei "é um furo?"
pode sê-lo ao avesso, oras...
não me crê? azar.

encontrei, por fim, uma parede
meu nariz lembra-se disso perfeitamente
hoje em dia ainda é meio torto
e doente
mas não morto... morto não.
cego de nariz morto é cego e meio.

na parede havia uma porta
destrancada, vim a perceber
"abro? não abro?"
abri.
nada vi.
estava ainda cego.
e não nego.
cego porque queria ser.

foi aí que eu disse assim
"tenho nada mesmo com isso..."
"fazer o que?"


Vitório Vilas

Tuesday, April 10, 2007

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disseram-me que sentiria falta d'ocê
após três dias sem cheirar a cor
dos teus cabelos.

mentiram.

disseram-me que quereria morrer
ao relembrar o gosto do fervor
dos teus apelos.

mentiram.

contaram-me dia desses
o quão sincero é teu beijo
e tua mão
mentiram-me por causa desse
desejo burro e etílico
de tocar o chão
afogaram meu orgulho
em banho-maria
incendiaram minhas crenças
com a primeira luz do dia
disseram-me "és nada mais"
"um incapaz"
"não consegue sequer levantar-se"
"que dirá, então, olhar a própria face
sem querer chorar"

mentiram.

mentiram tanto. mentiram cedo.
mentiram o pranto. mentiram o medo.
selecionaram as melhores mentiras
a dedo.
cínicos tais quais vilões
precisos tais quais peões
mentiram sobre meu caminho
e, em plena queda, me perdi
e nunca mais encontrei o chão.

até mentirem sobre o chão.
chegará o dia em que pisarei, enfim.


Vitório Vilas

Monday, April 09, 2007

quem tem vinho?

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encha meu copo, por favor.
até a borda.

agora pode ir.
sei beber sozinho, obrigado.


Vitório Vilas

[bip]

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em minha janela escrevi bem assim
"moro aqui, mas não me encontro
deixe seu recado, porém".

amanheci de janela quebrada
cacos de vidro e pedras no chão.

decidi comprar, então, uma caixa de correio
escrevi nela "moro aqui, mas não me encontro
deixe seu recado, porém".

amanheci com um envelope branco, sem nome
contendo um pó branco dentro.
fermento?

resolvi criar, então, um blog.
amenheci gripado.
maldita internet e seu virus, worms e trojans.

"não me encontro. fui deitar.
deixe seu recado, porém".


Vitório Vilas

http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17406546463514530706

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quem sou e donde vim
de que importa?
quem fecha ou abre a porta
é, pra mim, o que conta.
quem segura as pontas
e cresce sem saber porque
é, pra mim, o que vale

quem diz ser você?
quem você diz ser?
de nada vale saber tanta
superficialidade. minha especialidade, aliás...
é que desaprendi a sentir as coisas
desaprendi a sentir saudade
e agora nem preciso de você
já sei crescer...
desaprendi a sentir dor
e agora já sei do amor
já sei fingir...
desaprendi a sentir esperança
e agora sou todo assim
todo agora.

desaprendi a sentir tanta coisa
mas, esperto que só eu mesmo
assim, quase a esmo, lembrei de aprender
a reaprender o que porventura
vier a, propositalmente, desaprender

e se me faço complicado por demais
faz como eu, que sou capaz
de desaprender também a desentender das coisas
desaprendo tudo que desentendo.
no fim me basta pra continuar
vendo as coisas exatamente como elas são.

é isso que sou. nada mais, nada menos.
e isso me basta.


Vitório Vilas

Thursday, April 05, 2007

real.idade

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procuro por fogo
pr'acender a vela
há pessoa ficando mais velha
pouco a pouco...

hoje é dia de aniversário
há 20 e tantos anos saí do berçário
pro mundo.
desde então respiro bem fundo
mas quase não encontro ar...
maldita enfermeira. deveria ter
me deixado pra sempre por lá.

nasci, chorei, me alimentaram
botei tudo pra fora, como de praxe
aí me limparam. pensei "isso é a vida?"
"deve ser bom. gosto de ser passivo das coisas"
e continuaram a me alimentar
e me mimaram, me ensinaram a falar
foi o começo da minha desgraça
droga... deveriam ter-me deixado mudo.
chorar me bastava.

e me fizeram aprender o mundo
a ver as coisas, a jogar videogame
a brincar de bola
a dizer "não me amola, não quero crescer"
só não me ensinaram a parar...
aí tive de aprender a estudar. nunca consegui direito.
mas finjo bem. até meus professores acreditam.
minhas notas também.
entendi boa parte do mundo. pelo menos a que me cerca.
entendi as festas, os relacionamentos
os pais. ah, os pais. esses são difíceis de entender.
mas consegui. me fez mais feliz.
entendi os amigos e os que deixam de ser.
entendi os irmãos, entendi qual é a do pão
entendi o trabalho. entendi meu caralho.
apesar disso, negocio com ele todo santo dia.
entendi tanto, e tão pouco.
aprendi muito... e quase nada.
convivi com tanta coisa. e tanta coisa ainda me falta.
somo, subtraio, multiplico experiências
o somatório de tudo me fez sorrir.

isso me basta. agora entendi.
entendi de tudo um pouco, mesmo sem me entender...
vinte e tantos anos. tenho muito tempo ainda
a perder.



Vitório Vilas