Tuesday, April 17, 2007

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imagina se a vida se arretasse
e começasse a jogar as coisas
que nela a gente jogou indevidamente
durante a vida até o momento presente
ia ser um "deus nos acuda"
chicletes cairiam do nada em nossos cabelos
pedras voariam aos montes, quase que como balas
passando zunindo em nossos ouvidos
"um prédio alto, pingos de ar/ondicionado
porra nenhuma... é cuspe mesmo"
bolinhas de papel seriam como a neve
de lugares quentes
bitucas de cigarro, a chuva ácida
dos frios
vasos de flotes seriam o índice mais
elevado de causa-mortis de todos os países
do mundo...

seria deveras tosco de ver
palavrões sendo jogados pelo vento
nos ouvidos das pessoas
vômito aparecendo nos ônibus
árvores com um cheiro natural
de urina
as ruas seriam asfaltadas em purpurina
poeira seria confete, caindo pelas janelas
dos apartamentos de primeiro andar

de tudo isso ri-se

mas não dos que a vida toda
passaram jogando bombas
balas
mentiras
não dos que jogavam sujo
que jogavam com as duas mãos
jogavam feio
creio que não se ririam
dos que jogavam os homens
aos leões
fumaça aos pulmões
não se ririam deles

disso não se ri

afinal de contas, eles não vivem sós
esses que jogavam bombas e coisa pior
vai que teu pai, tua mãe ou teu filho
é um deles
teu marido ou amigo, qualquer um...

não... não seria mais engraçado.

nunca é engraçado quando jogam
coisas em nós indevitamente.


Vitório Vilas

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