Tuesday, September 12, 2006

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um outro eu que não eu
abriu as portas de minha casa
e levou tudo que é meu
dos discos às salas
não sobrou coisa que valha
a calha do telhado
que o infeliz também roubou
dos porta-retratos só restou
o vidro quebrado pairando
alado... Pois o chão também
foi levado... Por quem, sabe-se lá
minha janela, por onde um dia vi o mar
foi deixada lá... Só levaram seu conteúdo
as portas, as tortas, geladeira e fogão
o botijão, esse ficou... Mas levaram o gás
dos quadros restou a moldura
do fogo da lareira restou uma fagulha
da linha, a agulha. da calça, o bolso
sem dinheiro...
pairei, deitado, ao lado do vidro
e com um caco, cessei meu riso
estranhei, apesar da dor, não sangrei
meu sangue fora também levado de mim
e por fim, escrevi no branco que ficou da janela

"Procura-se Cinderela que possa trazer de volta
uma vida, não necessariamente bela
não necessariamente viva
apenas uma vida que se possa chamar Minha"


Vitório Vilas

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