Friday, January 18, 2008

.


é mais fácil do que parece. primeiro, junte tudo num só lugar, depois espalhe por aí, de modo que cada coisa, seja ela o que for, olhe pra nada além de si. aliás, as coisas não precisam ter olhos pra olhar pra si. não nesse sentido.

depois, adicione um pouco de saliva. é, saliva. cuspe? não, cuspe não. cuspe é saliva em movimento. entenda de vez, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. mesmo que essas coisas sejam a mesma coisa. a ação é o que as define. mesmo que passivamente. afinal, saliva não pede pra ser cuspida. nunca.

mas onde eu estava mesmo? ah, a saliva. pois é. passe-a em cada coisa com a língua, como se as coisas fossem as coxas as quais você deseja de paixão. mas nada de ereções ou inundações, ok? afinal de contas, coisas são só coisas. não há motivos pra excitação. e nem é pra isso que estamos aqui mesmo. lembre-se, é pra aprender a fazer. e é fácil. mais do que parece.

enfim, a saliva. passe-a com a língua. a língua é parte importante do corpo. é com ela que toca-se e sente-se o gosto ao mesmo tempo. depois, pegue cada coisa, uma por uma, ajoelhe-se em frente a tv, e faça-as assistir ao jornal nacional. pronto, agora elas sabem omitir. é, coisas aprendem. algumas menos do que o que são destinadas a fazer. mas não as suas coisas, pois elas agora estão cobertas por saliva, lembra? a sua saliva.

agora, praia. sol de meio dia. mas corra, pois a saliva não pode secar e dia nublado não vale. não há luz suficiente. e é lá na saliva onde está o aprendizado das coisas. enterre-as como se plantasse um bonsai. é, aquela arvorezinha atrofiada. agora vá pra casa. e durma. acorde, beba água e vá ao banheiro. volte ao quarto. janela. olhe lá fora, todas as coisas não enterradas ou lambidas por você. vê?

eu também. todo santo dia. agora que você já sabe como é, que tal?


vitório vilas

No comments: