Friday, February 23, 2007

um sobre as verdades dos outros...

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entre conversas e cervejas
disse-me um amigo, em tom sério

-poesia é coisa de veado ou vagabundo.
quando não os dois.

engoli a seco o deletério
sempre me senti estranho, pois
tomo mais uns goles, uns dois
e volto andando pra casa.


-pai, mãe, tenho algo a falar.

-finalmente, filho, vai casar?

-não, mãe. não posso. sou poeta.

meu pai, que sempre quis uma neta
pôs-se a chorar
minha mãe sorriu. já sabia
desde pequeno sempre ouvia

-leva jeito esse meu filho
com as palavras.


noutro dia, no trabalho
minha chefe ouviu de mim

-tenho algo a falar.

-pois bem, queria mesmo te dizer
serás promovido. parabéns.

-não posso. sou poeta.

-e a vergonha, não tens?
some daqui! já.
e sumi de lá.


sumi de lugares.
sumi de amores.
desejos fugazes.
tornaram-se dores.

cores esmaeceram-se
do preto e do branco
restou pó.
mas me assumi poeta.
poeta e só.


Vitório Vilas

2 comments:

M a r í l i a said...

.

"minha música quer só ser música...
minha música não quer pouco."

[Adriana Calcanhoto - Minha Música]


Essa frase carrega consigo uma infindável riqueza de realidade.


Tal qual o que tu escreveu... O que me fez lembrar, como de imediato, da frase.

:)

Anonymous said...

Pais.

Eles esperam da gente o que eles queriam ser e fracassaram.

A gente, alienado, até tenta ser o que eles não foram.

Quando desaliena, é tanto choro que não cabe na gente, nem neles!
Idéias e ideais diferentes.
Mas poetas também casam, a poesia não é doença não.

Dá pra compartilhar!
Dá!
Dá!

Ah, como eu quero acreditar nisso...