Tuesday, July 07, 2009

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A saudade que sinto por você um fim de semana inteiro, twenty-four-seven, nada mais pode fazer
se muda logo pro meu prédio
seja inteira meu remédio
lower my fever
set me on fuego
baila comigo
um par de fones, dois ouvidos
e a noite inteira pra... nem sei.

vitório vilas

Thursday, February 26, 2009

tarja preta

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minha cabeça dói. eu sei porquê.
afinal, já estou acordado há 20h...

antes de dormir sempre vejos filmes
todos em fast forward
replays do dia que passou

f rag ment a do s.

mescladosàscenasdopróximocapítulo
amanhã.

o herói desse filme sempre sou eu
o vilão também.
eterna luta entre eu e mim
sem fim...

o herói, quem sou
o vilão, quem quero ser
o dilema, sempre um poema
dadaísta, pseudo-concretista
salvador dalí me pintaria, sim.

chega o sono
prego os olhos
e ao que assisto são as cenas
escondidas
a versão do diretor

interrompem a película os reclames insones
quem dera meus filmes tivessem apoio
patrocínio e realização
da lexotan pictures.

vitório vilas

Wednesday, February 18, 2009

amigo é pra essas e outras...

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ouvi falar de você
e das diversas formas que inventa
pra poder sofrer
faz pipoca pra comer sozinha
e não escuta as verdades
que a tv teima em dizer.

ouvi dizer de um cara
presente em tua culpa.
ausente em teu corpo.
serpente são os outros
mas ele... sofá. so far.

ouvi dizer de uma vontade
que não quer calar
escorre pelos dedos...

ouvi falar de uma verdade
que não vai vazar
esbarra nos teus medos...

e eu aqui querendo saber mais.
da tua dor.
dos teus medos
do teu sofá
do que faz teus dedos mexerem assim...

aceito pipoca, filme e a verdade
só não saio da cidade
não da minha.

ou posso ser teu terapeuta...

isso. teu terapeuta.
deita no divã
e se abre pra mim.
assim...
agora fala. vai, fala.
mais um pouco agora
não demora e te curo. todinha.


vitório vilas

Thursday, December 18, 2008

hellcife

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se minha cidade fosse segura
eu passaria 1/4 da minha hora de almoço
dormindo em meu carro, janelas abertas
banco deitado, estacionado numa praça
deibaixo duma sombra qualquer.

segura mesmo. que eu não tivesse medo.

se minha cidade fosse segura
eu respiraria em cada horário
seu cheiro de cidade segura
andando no meio da rua
atravessando sempre na faixa.

segura mesmo. que eu não tivesse medo.

se minha cidade fosse segura
a noite nela seria mesmo uma criança
na praia, na areia, na porta do prédio
sentado na rua em cadeira de plástico
3 ou 4 amigos. 12 latas e hora pra dormir.

segura mesmo. que eu não tivesse medo.

eu acho até que arriscaria ser prefeito
se meu estado fosse seguro
mas no estado em que estou
prefiro ficar calado.
minha cidade não é segura
as paredes têm ouvidos
e batem forte
mafiosas
têm o dom da claustrofobia
a idéia é a seguinte, então...

numa cidade insegura como a minha
seja o melhor amigo das suas paredes.


Vitório Vilas

Tuesday, December 16, 2008

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será que eu voltei?
será que dá tempo de voltar?
a vida, amiga, deixa a gente cair
e tocar o chão?

deixa não. deixa nada.
na vida o tempo voa.
o tempo mata.
cura.
faz esquecer.
o tempo escorre
acaba...
só não acelera
nem espera acontecer.

30 minutos
14 linhas
12 1/2 músicas
3 cigarros
6 goles num café.
esfriou antes do fim.
109 teclas.
eu contei.
1 bocejo
10 desejos diferentes
todos ligados entre si
uma noite. um só destino.

erros. muitos delas a corrigir.

eu sigo voltando. aos poucos.
e você, como vai?

Thursday, October 23, 2008

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deixei pra mim um recado
na porta da geladeira
dizendo "volto logo
ponha pó na cafeteira
esquenta a água, senta e espera"

assim o fiz
enquanto me via saindo pela porta
saí feliz
sem olhar pra trás, sem me dar resposta
"que horas volta?"
...


cá estou, ainda
já está frio o café
mas me espero, tenho fé
que volto logo
saí a pé, não fui longe
quero crer...

as horas passam
saudade aumenta
angústia tenta
fazer tormenta
onde ora calmaria
fazia casa

decido, vou-me embora
em busca de mim
saio pela porta de trás
momentos antes de entrar
pela porta da frente

"blam"
...
"blam"
e a noite que tinha tudo
para ser sã
vira absurdo.

um eu sem mim
desencontro
reclames do plim plim
frases sem ponto
pontos sem nó
nó na garganta
de longe tudo me encanta
de perto tudo é feio
noite adentro, sigo sem freio
ritmado pelas cores e dores
da TV

de repente
ali, sentado na poltrona
nela me vejo
me desejo mais que nunca
agora sou estrela
não me quero mais em mim

por sorte, sempre terei os intervalos comerciais.
a não ser que, por orgulho, eu navegue por canais
até, quem sabe, cair na rede
e ser cibernético
virtual
existente apenas em mim
cobra comendo o próprio rabo
satisfeito estou.
não há nada trágico em ser autropofágico.


Vitório Vilas

Friday, January 18, 2008

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é mais fácil do que parece. primeiro, junte tudo num só lugar, depois espalhe por aí, de modo que cada coisa, seja ela o que for, olhe pra nada além de si. aliás, as coisas não precisam ter olhos pra olhar pra si. não nesse sentido.

depois, adicione um pouco de saliva. é, saliva. cuspe? não, cuspe não. cuspe é saliva em movimento. entenda de vez, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. mesmo que essas coisas sejam a mesma coisa. a ação é o que as define. mesmo que passivamente. afinal, saliva não pede pra ser cuspida. nunca.

mas onde eu estava mesmo? ah, a saliva. pois é. passe-a em cada coisa com a língua, como se as coisas fossem as coxas as quais você deseja de paixão. mas nada de ereções ou inundações, ok? afinal de contas, coisas são só coisas. não há motivos pra excitação. e nem é pra isso que estamos aqui mesmo. lembre-se, é pra aprender a fazer. e é fácil. mais do que parece.

enfim, a saliva. passe-a com a língua. a língua é parte importante do corpo. é com ela que toca-se e sente-se o gosto ao mesmo tempo. depois, pegue cada coisa, uma por uma, ajoelhe-se em frente a tv, e faça-as assistir ao jornal nacional. pronto, agora elas sabem omitir. é, coisas aprendem. algumas menos do que o que são destinadas a fazer. mas não as suas coisas, pois elas agora estão cobertas por saliva, lembra? a sua saliva.

agora, praia. sol de meio dia. mas corra, pois a saliva não pode secar e dia nublado não vale. não há luz suficiente. e é lá na saliva onde está o aprendizado das coisas. enterre-as como se plantasse um bonsai. é, aquela arvorezinha atrofiada. agora vá pra casa. e durma. acorde, beba água e vá ao banheiro. volte ao quarto. janela. olhe lá fora, todas as coisas não enterradas ou lambidas por você. vê?

eu também. todo santo dia. agora que você já sabe como é, que tal?


vitório vilas